Parece que foi ontem, mas já passou uma semana. Isto de andar a fazer trilhos nos Jantares de Natal e Trails nos almoços festivos, não deixou muito tempo para escrever sobre o 3ºTrail do Cabo Espichel.
Desta vez os 5 loucos do Azoia (Sim, os mesmos cinco das últimas novelas e aventuras) não alinhavam á partida. Eu e o Rui, antes da partida éramos os corajosos dos 30Km, no fim seriamos apenas os rebentados dos 30K. O Zé ia para os 15Km e o Laia e o Gomes ficavam a dar apoio no último abastecimento, certamente para gozar com os 2 empenados, conforme se veio a verificar.
Para finalizar este ano de recuperação, tinha deixado a prova com maior distância para o fim, mais ou menos como uma criança que deixa o rebuçado mais doce para último, para poder saborear melhor, aquele momento de degustação natural. O Trail do Cabo foi esse momento!
(Foto by João Pereira)
Correr pelas cores do Azoia, com este enorme grupo de grandes amigos, tem sido uma experiência inigualável em muitos sentidos. Temos feito provas magníficas, sempre com um enorme espirito de aventura e divertimento. À partida eu e Rui lá fomos andando atrás daquele “rebanho” de gente colorida e ainda sorridente, com pernas frescas e cheias de força. Logo aos 3Km, percebi que não estava virado para grandes correrias, sentia as pernas pesadas, e só via passar por mim malta cheia de pressa, certamente atrás de algum autocarro ou táxi que eu não tinha avistado. Fui correndo e apreciando as vistas, ao ponto de ter perdido o Rui para o grupo dos aceleras. O primeiro abastecimento veio na altura certa, admito que mesmo apreciando a paisagem, faltava qualquer coisa. Percorri rapidamente a mesa, não havia filhoses, nem azevias ou bolo-rei, mas havia uma enorme simpatia do staff do Azoia, o que verdade seja dita, é uma realidade hoje e sempre, em qualquer prova ou abastecimento. O abastecimento era farto para corredores e aquelas palavras certas de apoio, a todos os que ali chegassem, aconchegou o espirito a muita gente. Dali para frente, já não estranhei mas entranhei a espetacularidade daquele Trail.
Os trilhos mais técnicos são desafio a cada passada, que me despertam para tudo. Correr naquelas arribas arrepiantes é como uma descarga de adrenalina constante, que me sacode a alma em cada km lado a lado com aquele oceano sem fim. Subo uma pedra, desço um socalco, salto uma poça de lama, mas nada importa. Já estou a saborear o melhor rebuçado, e ainda falta tanto para o fim. Ao passar o Farol, a caminho do Convento, sou mais um no meio de muitos que correm agora de boca aberta, assoberbados com a paisagem, assoberbados com a nossa própria pequenez.
(Foto by Miguel Baltazar - Facebook Oficial da Prova)
O último abastecimento é como um porto de abrigo. Tudo o que comer ou beber agora só ajudará para chegar ao fim. Agora já não há aceleras, tudo é feito devagar, com calma para não perder nenhum detalhe daquele momento. Já estou na última parte da prova, mas a adrenalina e o gel energético, mantêm todos os sentidos em alerta constante. Os músculos querem correr e mais vale aproveitar enquanto isso acontece. Contínuo envolto numa atmosfera que não sei explicar muito bem, nesta altura já devia ter dores nas pernas ou nos pés. Com alguma surpresa apanho o Rui, está um pouco rebentado, mas ainda sorri. Pouco depois, pendurado no meio da falésia vejo o Gomes e o Laia. Isto à cá com cada sitio para fazer um posto de controlo. Deve ter sido do choque de os ver ali, mas as pernas começaram a doer a sério depois de falar com eles e ainda faltam 4 kms. Entre o correr e o andar deu para entrar no último km, todo empenado cheio de mossas na carcaça, mas com um enorme sorriso. Isto afinal não correu mal, acabei com 4H08m e um High-five ao amigo Noel. Que com toda a calma do mundo, tal e qual como um grande profeta que deixa as palavras certas no momento exato, sai-se com esta:
- Já está! Esta já ninguém te a tira.
Grande Noel, nem imaginas como aquele momento foi importante. Nesta altura há precisamente um ano atrás, nem 5km eu conseguia correr numa passadeira e agora aqueles 31,4km já eram meus. Só posso por isso agradecer a todos aqueles amigos do GDU AZOIA, pelo carinho em todos os momentos da prova.
Não é fácil dissecar aqueles 30Km´s. À medida que as letras se encaixavam e as palavras se entoavam em frases descritivas e detalhadas, parecia ficar cada vez mais por dizer.
Cada pedra tem a sua história, cada passada constrói um caminho que assenta sempre numa longa estrada onde o olhar pára, deslumbrado, assoberbado ou simplesmente ofuscado, pelas magníficas paisagens que este Trail me gravou na memória.
Estás de volta e isso é muito bom. Aproveita...!! Um abraço dos Xavieres.
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