domingo, 10 de novembro de 2013

10ºMaratona Porto


É difícil partir, mas é sempre mais difícil chegar!

Quarta vez na Maratona do Porto e a magia que eu tinha de correr no Porto continua igual. Talvez agora mais forte, menos bairrista e muito mais internacional, mas com a mesma mística, a mesma alma. A maior Maratona de Portugal, fez jus ao seu fado e a sua 10.ª Edição veio comprovar e dissipar todas as dúvidas, se é que alguma vez existiram. No Porto corre-se a melhor e maior maratona de Portugal, e como diriam outros “sábios”, provavelmente a melhor do Mundo e talvez da Europa.

Cheguei à partida com a certeza que o dia iria ser longo, muito longo. A condição física não é a melhor, mas tinha traçado o objectivo de estar no Porto e mesmo a custo, muito custo, lá estive a correr a minha 7.ª Maratona. Conheço o percurso, conheço a distância, e conheço o meu corpo, sei que o limite está próximo. Tento enganar-me a mim próprio, ignorando os sinais de um corpo com muitas mazelas mal curadas ou por curar. Talvez demasiadas. Mas a mítica distância só é mítica pelo sacrifício inerente sempre associado à palavra maratona. Ligo o mp3, nunca o tinha feito numa prova, mas hoje tudo conta para tentar enganar o que sei que vou passar. Música atrás música, km atrás de km e sem dar conta os primeiros 10K já passaram. Vou bem, sinto-me bem, dou por mim iludido em contagens de ritmos mirabolantes para chegar um pouco mais à frente. Talvez consiga, talvez o corpo hoje seja gentil. Talvez. Um grito desperta-me deste deambular no meio do pelotão. Não era para mim! Atravesso Matosinhos, e sei que falta pouco, para muitos dos que correm a meu lado começarem a subir em direcção à meta, a parte deles ficará cumprida. Chego à rotunda do Castelo do Queijo e vejo o recolher obrigatório da malta dos 16k´s. Os maratonistas seguem em frente, em busca de mais km´s. Por um segundo creio que tudo ficou silencioso, mas sou varrido pelo arranque de uma nova música, “It´s a Beautiful day”. Foi nesta altura que tive a certeza, a promessa que tinha feito a mim próprio, iria ser cumprida. It´s Beautiful day to Finish a Marathon. Do Castelo do Queijo à Foz tudo passou sem dar conta dos km´s ou mesmo do tempo. Ao passar à meia maratona, tentei sincronizar-me, 1H41m, não está mau para quem veio apenas para correr e esperar para ver. Ao chegar à Ribeira somos varridos por um banho de multidão, sinto que é por causa disto que gosto de correr no Porto, Ilustre desconhecidos, incentivam, aplaudem, erguem as mãos para mais um High Five. Ao entrar na Ponte D. Luis, não consigo resistir dou uma olhada rápida para ver o Douro deslumbrante a correr até à foz, Maravilhoso! Ao virar para Gaia, sabia que estava a entrar na pior parte, o piso em calçada tem o infeliz efeito de me agravar as dores na coluna, é nesta altura que sei que irá começar o verdadeiro desafio. Chego à Afurada e começo a fazer contas à vida, 4km´s e começaram as dores, desta vez ainda nem tinha chegado aos 30Km´s. Sei que tenho de me focar em chegar novamente à ponte D. Luis, abstrair das dores e pensar que cada passo que dou é menos um que falta para acabar. Na Subida para a ponte passa o balão das 3H30m por mim, e apesar de não ter qualquer mazela nas pernas, sinto que não posso ir em aventuras. Aumento o som da música e tento pensar em algo diferente que não seja aquela “bola de ténis” que me prende os movimentos na parte posterior da coxa direita. Ao entrar na ponte um fortíssimo, “Run Away” quase me rebenta com os tímpanos. Praguejo e quase arranco os auscultadores dos ouvidos. Esquece! Não vale a pena atira-los ao Douro, são de marca e depois tinhas de comprar outros. Saio da ponte com um sorriso nos lábios, e toda a gente que me vê deve pensar que adoro mesmo correr. Mais vale continuar a rir, correndo e rindo. Entro no túnel e recordo-me que foi ali que no ano anterior o pesadelo tinha começado. Este ano não vai ser assim, não pode ser assim.


Chego ao abastecimento dos 32Km´s e faço um check-up mental. Tirando as dores nas costas e maldita bola de ténis, Tudo Ok! Enquanto vejo e revejo o ok na minha mente quase passo pelo meu amigo Pedro Gabriel, sem dar conta. Um olhar mais atento e vejo-o em dificuldades. É difícil, ver um amigo com a camisola do nosso clube vestida a passar dificuldades num local onde eu um ano antes também tinha estado a sofrer. Paro e troco duas ou três palavras com ele. Imediatamente recusa a minha ajuda, mas sei que sozinho será difícil, muito mais difícil para ele, em tempos também já o foi para mim. Mas a decisão está tomada, vamos juntos até ao fim, que hoje ganhem os Kenianos que para o ano acabamos nós com eles. Entre o anda e corre e o corre e anda, entramos no último km a rir, coincidência ou não ambos estávamos a acabar a nossa 7.ª maratona de estrada. Ao entrar nos últimos metros, a alegria de acabar mais uma maratona, vai-se tornando num misto de tristeza. Corto a meta com 3H49 (tempo de Chip).
A 7ª!
Foi a última maratona que corri com dores, sei que muito dificilmente voltarei a correr a mítica distância, mas tinha de o fazer. Tinha do fazer por mim, pela minha família que sofreu mais uma fez com a minha ausência, mas principalmente porque tinha de dedicar minha 7.ª maratona ao meu primo Filipe Nogueiro, recentemente desaparecido, mas que me deixa eternamente grato por todos os momentos de cumplicidade e amizade. Que descanse em paz, pois foi com a sua imagem no meu pensamento que fechei este ciclo maratonista. Esta foi para ti rapaz do Clã dos Filipes!