terça-feira, 30 de outubro de 2012

9ºMaratona do Porto

Há dias que por mais que te esforces, por mais que lutes, tudo á tua volta parece desabar…no fim pára e pensa que tal como os outros, os que chegaram e os que não chegaram, tu és um sobrevivente.

 
Voltei ao Porto para pela 3 vez correr a mítica distância. Adoro correr nesta cidade, não porque sou portista ou portuense, mas porque sempre que volto sinto o mesmo calor que senti ao correr ali a minha primeira maratona. Tal como das 2 vezes anteriores, quando entrei naquela passadeira vermelha e passei por baixo do pórtico final, senti que tinha virado mais uma página na minha vida. A emoção de terminar uma maratona é o culminar perfeito de muitas horas de sacrifício, na estrada longe da família, longe de tudo aquilo que o comum dos mortais considera “normal”.Mas é ao terminar uma maratona, com o sangue a fervilhar nas veias, com os músculos doridos, o corpo totalmente absorto e o pensamento vão na família que ali não está, que sabemos que valeu a pena. Se acabei a minha 3ºmaratona foi simplesmente porque quando precisei, a família que sofreu com minha ausência me“empurrou” e comigo correu aqueles dolorosos últimos km´s.

 
A corrida até começou bem, entre abraços de boa sorte e boa estreia para o meu amigo Luis Carapeto, e mais umas quantas fotos com os amigos da blogesfera a corrida parecia ser o culminar perfeito de alguns poucos treinos. Cedo me juntei ao Paulo Pires e ao José Santos para o que pensava ser uma maratona calminha e sem sobressaltos. O Paulo Pires, vinha com a corda toda de Marrocos e liderava, enquanto eu e o Jorge lá íamos tentando acompanhar a passada. O José tal como eu vinha com o objectivo das 3H30m e para isso ser cumprido tínhamos de conseguir seguir o “líder”. Num percurso novo e na minha opinião muito melhor, só o forte vento poderia ser um handicap para uma boa prestação. A primeira parte da corrida, passou num ápice e mesmo com vento de frente na maior parte do percurso passamos á meia maratona com 1H43m, o que por si só adivinhava um desfecho feliz, pois o retorno seria com o vento a empurrar para a meta. Sempre com uma animada conversa lá fomos seguindo calmamente até perto do 27km. Nesta altura comecei a sentir umas ligeiras picadas no joelho direito, mas como correr uma maratona é sentir dor, acabei por não ligar á coisa. Ao 30Km, deixei ir embora o Paulo e o Jorge, as dores tinham-se agravado substancialmente e a opção mais simples era abrandar. Ao 32km passa o balão das 3H30m por mim e já não fui capaz de reagir, foi quando percebi que já nada havia a fazer. As dores que sentia nesta altura eram extremamente intensas e cada passada era um suplício de dor. Aguentei até aos 33Km. Entrei no Túnel e parei para andar um pouco. Pensei um pouco nas hipóteses que tinha, mas a verdade é que a 11Km da meta, tudo é vago e longe. Corro 200metros e volto a andar. Cada passada, cada alfinetada de dor que me torturava do joelho direito até ao pé. Nesta altura abandonar era o mais fácil, talvez fácil demais. Olhei muitas vezes no rosto daqueles que me passavam, mas também muitos levavam expressões de sofrimento. No abastecimento dos 35km, depois de muitos “corre e anda”, tomo a decisão mais acertada. Liguei para casa. Do outro lado ouvi apenas e só as palavras que interiorizei até ao fim. “Nunca desististes porque desistes agora? Só faltam 7.”. A voz percorreu a minha cabeça dura, mas ficou o eco das palavras da minha mulher. Dali até ao fim teria de correr e coxear ao mesmo tempo, nada difícil para quem já tinha corrido 35km, era um simples ”walk in the Park”. Aos 37km, recebo nova chamada, desta vez do meu filhote, qualquer coisa como “força pai, tu consegues”,ajudava a aumentar a vontade de ultrapassar aquele tormento. A leitura era simples se aos 35km só faltam 7km, se chegar ao Castelo do Queijo está feito, 2km a subir, a correr e a coxear não custa nada. Devagarinho continuei a minha luta. Ao entrar nos 42km e no magnífico tapete vermelho, senti que tudo tinha valido a pena. Cortei a meta com3H55m, o meu pior resultado numa maratona, mas com a certeza que tinha superado em muito os meus limites. Sentei-me num banco e liguei para casa novamente, senti os olhos humedecerem, ao dizer calma e pausadamente “cheguei!”.

 

Hoje, muito mais a frio e ainda com dores no joelho ao andar sei que só cheguei porque a família a 300km de distância, correu a meu lado aqueles inesquecíveis 7km. Ao meu amigo Luis Carapeto que se estreou no Porto, os meus parabéns pelas suas longas 4H39m de sonho ao correr a sua primeira maratona.

 

Kiss or kill. Beija ou morre. Beija a glória ou morre a lutar por ela. Perder é morrer, ganhar é viver. A luta é o que distingue uma vitória, um vencedor. Quantas vezes choraste de raiva e de dor? Quantas vezes perdeste a memória, a voz e os sentidos, por cansaço? E quantas vezes, nesse estado, disseste para ti próprio com um grande sorriso:“Mais uma volta! Um par de horas mais! Mais uma subida! A dor não existe, só existe no teu cérebro. Controla-a, destrói-a, elimina-a e continua.
 “Manifesto de um SkyRunner”