quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Treino de Domingo...

8h da manhã de Domingo, o restaurante “ O Barbas”, servia de ponto de partida, não para uma corrida, mas para um treino que se avizinhava duro, muito duro.

O Sol ainda meio envergonhado pela hora da manhã, deixava o vento arrefecer o dia, criando por vezes um ar desagradável para uma manhã de domingo. Olhei em redor, estava na hora. Um beijo aos meus amores, mais um nó nos ténis, óculos na cara, chapéu na cabeça e mochila às costas. Lembrei-me que parecia mais turista que corredor, mas tudo era necessário, tudo fazia sentido, o objectivo esse estava a aproximadamente a 30 km de distância. O paredão da costa era a parte mais fácil, depois vieram as primeiras areias, ainda óptimas para correr. A maré nesta altura ainda dava tréguas acenando lenta e descontraidamente a sua presença, absorvendo subtilmente as pegadas deixadas para trás, e apagando o trilho que poderia servir de guia ao retorno. Era uma ida sem certeza de volta, uma “caminhada” contra o sol, a água e a areia, fugindo da sombra, mas sem ambições de enganar o objectivo. Os primeiros km´s voaram rápido, talvez rápido demais. Até à Fonte da Telha, o mar tinha sido benevolente, corria nessa altura sozinho, embrenhado em pensamentos fúteis e absurdos, acenando aqui e ali a desconhecidos companheiros, gente incógnita, sem nome, mas ao mesmo tempo amiga, furto de rápidos encontros e desencontros no mundo da corrida. Depois da Fonte da Telha, fui apanhado pelo TGV (Antunes, Batista e João Abrantes), malta de outros campeonatos, de outros andamentos, carinhosamente apelidados assim pelo amigo Luís Parro, dada a impressionante rapidez com que deslizam pelas areias da Praia. A companhia foi curta mas agradável, meia dúzia troca de palavras, e a certeza que aqueles homens, são malta dura de roer. Fiquei lentamente para trás, não porque o ritmo fosse rápido (que ideia!) mas sim para ter a certeza que faziam batota. Sim, porque os meus pés enterravam-se na areia e os deles a correr mesmo à minha frente nem lhe tocavam. Só pode ser batota, porque correr sem pôr os pés no chão, meus amigos, é batota, só pode (espero que a malta do TGV não me leve a mal porque são atletas verdadeiramente fantásticos)! Continuando. A maré começara agora a carregar, impedindo-me por vezes de correr. De um lado a areia solta do curto areal, do outro, o mar que deixara os suaves acenos dos primeiros km´s, para agora se revoltar contra a costa, empurrando, batendo, gritando, revolta pelo espaço que queria seu. O areal sem resposta, mantinha-se impávido, sereno mas intransigente no seu território. Nesta altura corria sozinho, nesse campo de batalha entre a terra e o mar. Os pés enterrando-se na areia, o sol a queimar a cara. Era como um perdido em terra de ninguém, observado pelas inúmeras gaivotas surpreendidas pela minha presença subtilmente acompanha por outras tantas pulgas da areia que faziam de batedores, saltando alegremente à frente das minhas passadas. Perto do km quinze eis que vejo finamente caras conhecidas, o Vitor Veloso e o António Almeida, vinham de regresso da Lagoa de Albufeira acompanhados pelo Rogério. Não pensei duas vezes, voltei imediatamente para trás, para na companhia destes dois grandes atletas e amigos, palmilhar as mesmas areias de volta à Fonte da Telha. A companhia destes companheiros ofuscou o cansaço e animou a corrida. As passadas ritmadas, os batimentos cardíacos, a respiração ofegante, o bater das ondas, as gaivotas e o mar, serviam de sinfonia à manhã de domingo. Chegava novamente à Fonte da Telha, um abraço aos amigos, um até já, e passava agora à estrada, faltavam 10 km´s para chegar a casa. Subia lenta e vagarosamente a interminável rampa de acesso à praia, quando as pernas começaram a vacilar. Mais um golo de água, um gel e uma barra, mas as pernas já não respondiam da mesma maneira. Passei a Aroeira, lentamente, arrastando o corpo dorido e uma sombra cansada . As pernas doíam e os pés gemiam, cada passada tornara-se numa angustiante dor, que me massacrava a mente e derrubava o corpo. Corri mais 4 km, ignorando umas vezes as dores, outras vezes superando-as. Mas ao chegar à Verdizela uma lacerante dor nos músculos lombares, derrubou-me. Não caí, mas gritei. Gritei interiormente, de dor, de revolta, mas também por ter a certeza que acabara ali, a 5 km´s de casa o treino duro, muito duro de Domingo.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Treino no Parque do Serrado

Uns criticam, outros satirizam, mas os do lado de cá do rio regozijam, por saberem que é aqui na margem sul que se sentem em casa, por terem não um, mas sim, vários parques onde podem fazer aquilo que mais gostam, correr.
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A margem sul é propícia a estas coisas, sol quente como um Deserto, mas uma imensidão de água, as gentes por vezes frias, mas um ambiente acolhedor que nos aquece. Entre os concelhos de Almada e Seixal podemos encontrar vários locais que germinam desse calor das gentes da terra, desse brio que enche os que são de cá, para partilhar com os que vêm de lá.
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Este fim-de-semana fiquei por casa, sim porque o treino foi ao fundo da rua, naquele cantinho que posso chamar de casa, devido a tantas vezes já lá ter corrido. 10 km´s no Parque do Serrado, e mais meia dúzia de rampas, isto tudo com um grau de dificuldade média, não pela distância, mas pelo terreno acidentado que marca este pequeno parque na Amora. O pequeno parque acolhia às 9h, vários Corredores de Domingo, bem como alguns afoitos caminheiros que ao som do chilrear dos pássaros e ao cheiro a Alecrim, se juntavam involuntariamente para partilhar aquele ambiente calmo de mais uma manhã desportiva.                                     
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Lembro-me desde sempre de dar umas corridas por ali, ora para um corta-mato escolar, ora para um treino de pré-época, ora para desfrutar apenas de uma pequena corrida. Já vi aquele local ser parque de Campismo para a Festa do Avante, mas também palco do Cross Internacional da Amora, por isso, para mim é uma casa. Tal como muitos dos outros parques espalhados por Almada e Seixal o são para outros corredores de Domingo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Correr uma Maratona….

Todos nós efectuamos uma interpretação diferente da corrida, mas quando entramos numa prova, do primeiro ao último classificado todos tem um objectivo comum ….cortar a meta.
Neste post não falo de nenhuma experiência pessoal, nem descrevo nenhuma das minhas corridas, tento apenas passar um testemunho, ou melhor 5 testemunhos. São 5 pessoas, do atleta de elite ao atleta de pelotão, que têm todos o mesmo objectivo: terminar a maratona de Chicago. São 5 viagens simultâneas ao mundo da corrida, desde o nascer da ideia de terminar uma maratona, passando pela preparação e terminando na linha de chegada.
Todos passam pelos mesmos passos, todos têm o mesmo objectivo, mas todos vivem sentimentos e emoções diferentes em torno da corrida. Percam seis minutos, mas deixem-se levar na frase que serve de mote para o filme...
 
"When you cross the finish line...you change your life for ever".
 
...porque no fim tal como eu, também vão querer terminar uma maratona.
 
 

domingo, 6 de junho de 2010

9ºCorrida do Oriente

Haruki Murakani, escreveu um dia que aquilo que mais gostava era de correr com sol e muita água por perto. Foi isso que aconteceu na 9.ª edição da Corrida do Oriente, o Tejo deu-nos as boas vindas, despediu-se na partida e acolheu-nos à chegada.
Dia de Sol, algum vento, mas com os jardins do Tejo e ele próprio a criarem uma paisagem linda! De um rio que orgulha os lisboetas, só se podia esperar aquela paisagem, que nos enche a alma, e nos abana por dentro como que a empurrar-nos para uma prova que já vai na sua 9.ª edição, nesta parte oriental de Lisboa.


Cheguei uma hora antes para o levantar os dorsais, e como que combinado, chegava à mesma hora a dupla Tandur e respectivas famílias, claro que desta vez também eu levava a minha falange de Apoio. Consultei as listagens e aí estava ele, o Dorsal 1255, que me acompanharia ao longo dos 10km. Um ligeiro aquecimento, uma foto com o puto, uma outra da ponte, o beijinho de boa sorte e já estava pronto. Tiro de partida, começava a aventura. Parti bem com alguns zigue-zagues como que a fintar os mais vagarosos, percorri com o olhar aquele mar de gente, e apesar rodeado de todos aqueles entusiastas da corrida, senti-me sozinho. Não encontrara na partida, o António Almeida nem o Vitor Veloso, bons amigos que certamente seriam uma grande companhia. Enfim, vamos correndo a ver o que isto dá. Ao 3.º km continuava a passar atletas, duas atletas da Garmin com dois dos Caixienses, iam logo ali à frente num ritmo muito idêntico ao que levava, aproximei-me e na primeira subida percebi que as Garmin estavam a ficar para trás, descolei, trazendo atrás de mim os dois caixienses que me acompanharam até aos 5 km, onde por entre duas ou três palavras e um quadrado de marmelada, me desejaram uma boa prova, pois o ritmo estava muito forte. Aí, estava o último retorno, já tinha passado o meio da prova com 20m36s e achei que mantendo ritmo faria uma bom resultado, do lado contrário cruzava o Vítor Veloso que me transmitiu força. Amigo, desculpa não ter respondido mas já ia em modo de poupança. Placa dos 8km, faltavam apenas dois, olhei para o relógio e tinha conseguido manter o ritmo desejado, mas estava na altura de apanhar uma boleia, pois nesta altura ia sozinho e tinha a perfeita noção que era difícil manter o andamento. Apertei mais um pouco e fui colado a dois atletas do Banif, aproveitei a posição para cortar o vento e a boleia da passada rápida em que iam para chegar ao fim. Os três ainda passamos mais 4 atletas que não conseguiram acompanhar o ritmo e vir no nosso encalço. Entravamos na última rua, com nome daqueles que sofrem e vingam, o passeio dos Heróis, era o caminho certo para a meta.


Olhei para o relógio, estava a 200 metros de bater o meu recorde pessoal nesta distância. Não que seja grande coisa, mas consegui, 40m55s mostrava o relógio oficial, estava feito. Chegara a Bom Porto esta corrida. Para meu rejúbilo pessoal o meu filhote chamava-me, alegre de me ver, correndo para comigo recolher as lembranças de final de corrida. Ainda ouve tempo de saudar mais uma vez a família Almeida que bem como os Veloso, ambas famílias de boa gente, com muito orgulho, vivem de modo muito próprio e peculiar estas aventuras de fim-de-semana. Obrigado pela vossa sempre simpática companhia.