sexta-feira, 2 de julho de 2010

Entre o treino e o Rio.

Com o aproximar do Verão aumentam os corredores de Domingo, aqueles que querem perder os kilos a mais para caber no fato de banho e fazer figura à beira mar. Tenho pena que não saibam o que é ser um verdadeiro corredor de Domingo, que corre todo o ano faça chuva ou faça sol, apenas porque isso lhe dá prazer.

Todos passamos semanas embrenhados em trabalho, ansiosos por chegar a casa e sermos acolhidos efusivamente pela nossa família, que depois muito nos custa “abandonar” para saciar aquele bichinho que se chama corrida, e que nos corre nas veias, todos os dias das nossas vidas. Esta semana, mudei, aproveitei o sol de final do dia e deixei de ser apenas corredor de domingo. Dois dias, dois treinos, mais de trinta km´s e mais de 2 horas longe da família. Mas compensou pois além de treinar fui recebido efusivamente 2 vezes por dia.

19:30 de quinta-feira, 1 de Julho. Calcei os ténis e fui ver o rio. Saí de casa a precisar de algo, procurei em mim, e sem saber o que precisava, apenas corri. Corri até à Amora, passo a passo, sem obrigações de tempo. Cheguei ao rio e olhei, o espelho de água chamava por mim, fiz figura de forte e contornei. A maré cheia reflectia do outro lado a Arrentela, banhada por aquele sol de final de dia, que nos limpa a Alma e nos aquece ainda mais o corpo que já vai quente da corrida. Absorvendo os km´s continuei, percorrendo sozinho, um percurso cheio de gente, que ora andando ora correndo, partilhavam algo que não era seu, aquele passeio á beira-rio. Cheguei ao Seixal. A estrada cortada mas ainda vazia, tornava-se ideal para correr antes que a romaria às festas inundasse as ruas de um mar de gente. Ali já não havia passeio á beira-rio, apenas estrada, apenas eu e a estrada. Desliguei-me de tudo o que me envolvia. A corrida absorvera os meus sentidos, em cada passada, ouvia apenas a melodia que o meu corpo ritmado criava. Sem dar conta do tempo nem do espaço, acordei sobressaltado pelos muitos e eufóricos benfiquistas que saudavam os seus heróis à porta do centro de estágio. Retornei, percorrendo os mesmos caminhos, agora mais rápido, para também eu ser saudado, mas agora na minha chegada a casa.

19:30 de sexta-feira, 2 de Julho. Depois de ontem, voltei a percorrer o mesmo, as saudades da Baía, as saudades de partilhar o passeio que é de todos, aquele espelho de água, tudo isso me fez voltar. Sair da Amora, saudar a Arrentela e abraçar o Seixal, tudo isso na mesma corrida, é divinal. Já o regresso não foi só o rio, não foi só o passeio e aqueles que o partilham a me acompanhar. O som prévio ao concerto de Jorge Palma embrenhava-se na corrida com os acordes gastos e melodiosos de tantos versos e canções. Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar… É a frase que retive, depois de tirar a mão do queixo e de não pensar mais nisso. Acabei por deixar-me rir. Estava de novo na minha Amora, naquele cantinho à beira-rio, onde as casas baixinhas e as gentes de outrora nos fazem sentir em casa. Nada melhor para terminar mais um treino e mais uma semana.


8 comentários:

  1. A minha esperança é que algumas dessas aves de arribação quando começar o tempo de chuva já tenham sido hipnotizadas pela beleza da corrida e fiquem connosco, corredores de todo o ano, e possam entender este seu belíssimo e poético texto.

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  2. Amigo Jorge Branco, obrigado pelas suas elogiosas palavras.
    Acredito que a pouco e pouco, a partilha das nossas vivências no Mundo da Corrida vão influenciar algumas dessas aves a continuar a "voar" durante todo o ano.
    Um abraço.

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  3. Caro Filipe;

    É muito bom disfrutar de momentos e locais que gostamos, com uma bela corrida. Maravilha!
    Os corredores de domingo no verão, poderá ser que alguns se tornem em "viciados" como nós durante todo o ano. Quem sabe!

    Um abraço
    Xavier

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  4. Olá, Xavier.
    Todos nós com os nossos blog´s tentamos mudar rotinas e mentalidades, se todos os anos conseguirmos juntar mais um elemento á "familia corredora", é sinal que todos os esforços e tempo na blogesfera, valeu a pena.

    Um abraço.

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  5. Ai que saudades... (suspiro). Já te disse não já? Morei na Amora, morei no Seixal, tão que bem conheço essa Baía e essas sensações que tão bem descreves.

    Enfim, a vida não pára e agora tenho outras paisagens para degustar, e quem sabe, um dia também ter saudades. Por enquanto e sempre, importante é aproveitar o que se tem.

    Bons treinos

    ana pereira

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  6. Olá, Ana.
    Dizes bem, aproveitar o momento é a melhor maneira de guardar na nossa vida as sensações que um dia nos hão-de dar as saudades.

    Bons Treinos e disfruta das tuas novas paisagens.

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  7. Caro, Filipe...

    Correr é mesmo muito bom!
    Se eu podia viver sem a corrida?
    Poder podia, mas a minha vida não era a mesma coisa!
    Boas corridas tornam a nossa vida muito melhor.
    Quem tem dúvidas, que experimente!!!

    Abraço
    José Capela

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  8. Filipe:

    Grata por passar pelo meu humilde blog. Gostei muito do seu e vou acompanha-lo. E verdade, para nós corredores não existe frio ou calor pois correr é a nossa paixão.

    Um abraço desde aqui de Chicago.
    Sandra

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