segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

XII Grande Prémio do Atlântico 2011

Levantar cedo para apanhar frio, Correr à chuva, ser baleado por grãos de areia e ser varrido por vento forte. Não é de maneira nenhuma a melhor manhã de domingo. Mas se juntarmos a isto tudo uma prova de atletismo, perto de casa, com muitos companheiros. Então sim, a manhã de domingo valeu a pena.

Costa da Caparica, 9 e picos da manhã. A dupla Tandur presente em território português chegava com pouca vontade de enfrentar aquele mau tempo, desconhecendo o que ainda estava para vir. O companheiro António Almeida tinha escolhido outras paragens e preparava-se por esta altura para fazer um enorme brilharete na Maratona de Sevilha, a ele os meus muitos parabéns.

A chuva, o frio e o vento ainda ligeiros marcavam a entrega dos dorsais e as pequenas conversas de circunstância para passar o tempo até à partida. Entre trocas de palavras encontrámos o amigo Mário Lima também com pouca vontade de apanhar uma molha, mas agora que já ali estávamos era melhor equipar e dar uma corrida. Tempo ainda antes da partida de rever o Carlos Sequeira e a família Benavente. Ficou por encontrar o amigo Coutinho, dado como desaparecido no meio dos 1500 atletas inscritos à partida. Já equipados e apanhar frio fomos informados que este ano a partida tinha mudado de local, 400 metros ali para o canto. Grande erro da organização. Colocar 1500 atletas num canto de uma curva, não é boa ideia, mas mesmo assim ainda deu para ver o Fábio Dias que generosamente tirou a foto da praxe (Obrigado, companheiro). Mesmo no meio da ordem desordeira que ali se sentia, lá se deu o tiro de partida para que a malta corresse em vez de protestar.


Eu e o Vitor Veloso (Foto de Fábio Pio Dias)

A chuva e o vento forte mesmo sem dorsal, marcavam também presença, sem saber estava a começar a prova com piores condições climatéricas que já corri na vida e acreditem que praticamente em 20 anos de vários desportos federados nunca tinha vivido nada assim. Os primeiros km´s foram feitos aos ziguezagues, passando atletas desconhecidos e saudando os conhecidos ultrapassados. Perto do 2km, o vento começava a ficar mais forte, a chuva acompanhava o vento enquanto eu e o Vítor lá continuávamos a forçar o andamento. Até à Trafaria, perto dos 4 km´s, fomos passando as dificuldades com algum esforço mas acelerando o ritmo, sem saber o que estava para vir. Aos 5km o Vítor começava a sentir dores mais fortes no tornozelo. Gritei-lhe várias vezes para que não ficasse para trás, só gritando conseguíamos falar um com outro por causa do vento e da chuva forte. O pelotão alongava-se agora pela estrada, massacrado pela chuva, mas combatendo o vento. Virámos a caminho do pontão. Passada forte, com convicção, ligeiramente curvados para enganar o vento, mas alinhados e ordeiros como um batalhão invencível a caminho de mais uma batalha. Última curva e damos de cara com o Adamastor, era ali o nosso cabo das tormentas. Fomos literalmente atirados contra os restaurantes, a chuva massacrava, o vento, agora lateral era fortíssimo, a água do mar assaltava o pontão, enquanto a areia da praia nos crivava o corpo. Corria agora inclinado para a minha direita, sentindo a areia a varrer-me o corpo, mal abrindo a boca para respirar. Deixei de ouvir. O meu ouvido direito estava cheio de areia. De olhos semiabertos ia tentado ver o caminho. Sentia-me encurralado pelo mar forte e traiçoeiro a ditar as suas leis contra o imponente pontão. A chuva forte encorajada pelo vento municiado pelo areal tentava levar vencido aquele pelotão de gente audaz. A meio do pontão o atleta à minha frente quase cai e para, gritei-lhe força. Arrependi-me no mesmo momento em que abri a boca para falar. Ele não me ouviu e eu tive direito ao abastecimento “ de areia”. Cerrei os dentes e pensei que a mim o Barrabás não me deitava abaixo. Acreditem ou não, mas acelerarei. Sair do Pontão foi como um respirar de alívio dorido e sofrido. Faltava agora um km para o fim. Quando vi a placa dos 9Km, lembrei-me do amigo Jorge Branco, e recitei na minha mente, uma frase que me fez todo o sentido “É na busca mágica do último quilómetro que todos nós corremos“. Por entre pensamentos, a meta estava a vista, e mesmo com todo aquele mau tempo, acabava com 42m58s, um resultado menos mau tendo em conta os poucos treinos que tenho realizado e pelo simples facto de esta ter sido a minha primeira prova em 2011.


Depois desta loucura, nem imaginam como foi divertido chegar a casa e levar um raspanete do meu filhote, dizendo com ar muito sério que quanto está a chover não se pode ir correr para a praia e que ainda por cima estava a sujar a casa toda de areia, à mãe. Enfim!


Agora só para nós, desta vez o puto tinha razão.