quarta-feira, 9 de novembro de 2011

8ºMaratona do Porto

Tinha prometido a mim próprio que voltaria. Tinha de voltar. Àquela cidade que quase me tinha derrotado no ano anterior. Sofrera mas tinha escrito na História da minha vida que naquele local me tornara Maratonista.
Sábado de manhã e despedia-me da família entre beijos de saudade e ternura. No vão da escada as saudades já apertavam, mas o pensamento estava no Porto, na linha de partida para a minha segunda Maratona. A história repetia-se, tal como hà um ano atrás, as mesmas despedidas, os mesmos dois autocarros carregados de sonhos, ambições, vontades, crenças e ilusões.  Cabia a cada de um nós escrever a sua própria história, correr a sua própria corrida, percorrendo os caminhos e ruas da cidade do Porto em busca da tão ambicionada meta. Acabar a Maratona. Para alguns a ambicionada estreia, que tal como eu tinha sentido hà um ano atrás,  preenchia-lhes a mente com ambições e receios. Para outros um simples regresso para voltar a testar o corpo e a mente na mítica distância da maratona, como guerreiros que voltam ao campo de batalha na esperança de se tornarem imortais, no tempo e na História.
Neste dia correr no Porto torna-se algo divinal. Ao tiro de partida, tudo se esquece, tudo se torna periférico. Apenas ficamos nós. O corpo e alma unem-se numa simbiose quase perfeita, distraída apenas pelos sons revoltos do atlântico ou pelo melodioso e sereno Douro. Por volta dos 10km´s, o primeiro choque. Mais de metade dos protagonistas desaparece, ficamos apenas nós: maratonistas e candidatos a tal. A Maratona começa aqui, neste ponto já não há retorno, temos de seguir. A foz acolhe-nos, abençoa-nos e deixa-nos prosseguir. O seu vento agora brando, apenas nos empurra suavemente como uma mão que embala o berço. Na ribeira o Douro canta e encanta os corajosos, os devotos na crença, os corredores e a sua corrida e guia-nos até à ponte D Luis. É aqui, que temos a certeza que fazemos parte da cidade, do rio, enquanto atravessamos aquele Douro envolvidos na magistral armadura de ferro e sentimos que Gaia nos acolhe nas suas velhas calçadas, de paralelipedos escuros e tortos a enquadrar as caves e os barcos rabelos. Até à afurada é um pulo, ou apenas meia dúzia de passadas corridas. O suor frio que me corre na testa acorda-me de um sonambulismo, de um sonho. 1h37m Abro talvez ligeiramente os olhos e sei que vou a meio, enquanto o  Sol morno daquela fria manhã Portuense, não me deixa acordar definitivamente. Aquece-me o rosto e o outrora suor frio já não existe.
Os olhos novamente semicerrados, querem que volte a deixar-me ir. Anseio embalar novamente, no Douro, na calçada escura e voltar adormecer o corpo e mente na corrida. A armadura de ferro está ali repetidamente, respiro fundo e atravesso a ponte pela última vez , rio acima em direcção a um ponto até agora vazio e perdido num além que não vislumbro. O Freixo faz-me sombra, volto a sentir o frio, está na hora de voltar, não ao principio mas ao fim. Aos 30km´s estou sozinho, mas mesmo adormecido e envolto no embalo do Douro, descubro que as minhas passadas sabem o caminho. Respiro então calmamente, sei que vou chegar, sei que a barreira é mítica mas talvez imaginária, se aparecer enfrento-a como outrora fiz. O corpo ainda não chegou, mas a mente diz-me que sim, agora sei que vou chegar. Vislumbro-a momentaneamente e recordo outros tempos, noutra passagem e outras dores. Sinto que me tornei mais forte, e a prova disso é que aquele mar de gente me aplaude a mim e aos outros que ali chegaram. Sentem a dívida para connosco por corrermos na sua cidade, mas também nós os maratonistas estaremos sempre gratos por aqueles inesqueciveis momentos das nossas vidas.

3h14m44s (-26mins  que em 2010!!!!), Obrigado Porto! Por me deixares adormecer a vaguear nas tuas ruas e ruelas, por me embalares na tua foz e por me deixares ouvir o teu melodioso Douro. Tal como no passado sei que um dia voltarei para te saudar, mas agora o coração apertado nas saudades e na ternura leva-me de novo a casa para junto dos meus que de olhos fechados, não sentem o meu beijo. O meu corpo agora dorido implora finalmente por clemência, deito-me suavemente e fecho também eu os olhos para reviver mais um dia na pele de um maratonista.    

GP Cruz de Pau

Todos os anos o GP da Cruz de Pau é para mim um regresso ás origens. Um regresso a uma casa que me ajudou a crescer e ao mesmo tempo a viver momentos muito felizes. É por isso uma prova obrigatória, para marcar presença mesmo que seja de gatas ou ao pé coxinho.

Paulo Sousa, Luis Carapeto, Vitor Veloso, Eu e Pedro Ferreira

Depois da corrida do Tejo tinha lançado ao amigo Luis carapeto o desafio de correr o Gp da Cruz de Pau. Ele que se tinha estreado numa prova de 10km´s hà uma semana, acabou enganado, e inscrito numa prova de treze! No domingo de manhã tínhamos uma comitiva digna de elite, o Vitor Veloso, o Pedro Ferreira e eu éramos os elementos da praxe mas era o Paulo Sousa e o Luis Carapeto que alinhavam na estreia da prova. 5 corredores de domingo e mais uns pozinhos. 


Com cerca de 500 inscritos na prova principal, apesar de ser uma prova pouco publicitada, o Gp contava com vários elementos de grande nível, como é o caso do Alberto Chaiça e do Eusébio Rosa. Dada a partida, eu e o “primo” Veloso saltámos logo para o grupo dos aceleras, mesmo sabendo que não tínhamos andamento para a coisa. O Pedro resguardou um pouco e ficou-se a rir dos loucos enquanto que o Paulo e o Luis um pouco mais atrás tinham na estratégia começar devagarinho e depois ganhar aos outros todos. O primeiro km passou aceleradíssimo, 3m45s!!!!! Não estava à espera e para não desanimar no caso de uma quebra de ritmo, tomei imediatamente a decisão de só voltar a consultar o relógio aos 5km para me situar. O que na verdade aconteceu bem mais cedo do que estava à espera dado que passei com 19m04s. O retorno fazia-se perto dos 6,5km, com um grande amigo de serviço, José Baptista. O ano passado tínhamos feito alguns km´s lado a lado, eu a correr e ele de bicicleta, mas este ano ficou-se pela função de aguadeiro. Foi um enorme prazer revelo, mesmo em corrida ainda deu tempo para me tentar vender a bicicleta, deduzo que nesta altura ou eu ia com muito mau especto ou a sede era muita. Ainda ponderei rapidamente na proposta da bicicleta, mas fiquei-me pela garrafa de água. Ainda não tinha acabado de beber a água e já me cruzava com o Pedro em sentido contrário. A saudação foi rápida porque honestamente não estava minimamente à espera de o ver já ali. Perto dos 8km, fiquei sozinho com um outro atleta, mais velho e com uma passada de fazer inveja, pois os km´s continuavam a passar e o ritmo mantinha-se abaixo dos 4min\km. O trajecto desta prova é um dos meus locais habituais de treino e não me lembro de alguma vez ter percorrido aqueles km tão depressa. Após sucessivas trocas de ritmo impostas ora por mim ou pelo outro atleta, ouço o garmin anunciar os 10km´s, a curiosidade leva-me dar uma vista de olhos. 39m28s, tinha acabado de bater o meu recorde aos 10km´s por 1min e ainda faltavam 3km para a meta. Este facto deu-me um novo ímpeto de vontade e ambição, até ao fim iria ser sempre a puxar para fazer a melhor marca possível. A 2 km´s da meta e após algumas ultrapassagens ficava reunido um grupo de 6 atletas. O ritmo acelerava ainda mais com as sucessivas tentativas de cada um em descolar do grupo. Já dentro do último km, mais precisamente na entrada da última subida um novo ataque de um dos outros atletas obrigava a o grupo a recuperar na subida. Apanhado o atleta vejo a minha oportunidade. Num último esforço consigo sair do grupo, ainda na subida, com um ligeiro sprint que me deixa 5 metros de avanço. Olho para trás e desta vez o grupo não responde. Sem baixar a aguarda acelero ainda mais, estava a 400 metros da meta, e se dependesse de mim de certeza que não me apanhavam. Mais uma curva uma contra curva, uma ultrapassagem e entro na recta da meta sozinho. A estratégia tinha dado resultado e cortava a meta com 52m25s, o meu tempo mais rápido aos 13km, tirando 3min30s ao tempo efectuado na mesma prova no ano transacto. Estava delirante.

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A chegada!

Entre cumprimentos aos meus pais, vou vendo chegar o resto da comitiva com resultados também eles excelentes para os seus objectivos. Até o Luis Carapeto que se tinha estreado aos 10kms no semana anterior chegava inteiro ao fim numa prova de 13km´s.

Eu, Vitor Velos, Luis Carapeto, Paulo Sousa e Pedro Ferreira

Depois da foto da praxe, estava na altura de voltar a casa para saborear o momento com a família.

domingo, 23 de outubro de 2011

Corrida do Tejo 2011

Este fim-de-semana foi o regresso às provas. Depois daquela pequena mazela na meia das Lampas e de mais uns treinos longos na companhia dos atletas do costume (Vítor Veloso e Pedro Ferreira) esta era uma prova que por dois grandes motivos fazia questão em participar. O primeiro é que no ano passado estive inscrito mas não participei por precaução, de modo a não agravar uma lesão, fazia por isso questão de experimentar a tão badalada corrida do Tejo. O segundo porque iria acompanhar um grande amigo, Luís Carapeto, na sua primeira corrida de estrada após vários e longos anos de interregno.

Eu e o Luís, chegamos em boa hora a Oeiras, para apanhar o comboio para a zona da partida em Algés. Apinhado e com pouco espaço para sequer respirarmos lá fomos embalados pelos solavancos do CP da linha. Chegados a Algés o ambiente era fantástico. Imensa gente vestida a preceito (leia-se a camisola-dorsal igual para todos) cheia de vontade de correr lado a lado com o Tejo. Respirava-se uma adrenalina contagiante que nos embrenhava num estado de espírito competitivo amigavelmente são. Gente, muita gente espalhada por todos os cantos, ruas, ruelas, cafés mas em todas se lia nas feições o mesmo objectivo, a mesma vontade de correr. O Luís como estava em estreia lá ficou no último deck de partida ao lado daqueles que tinham tempos menos rápidos, enquanto isso eu tinha-me inscrito para os sub-45min e ficava um pouco mais à frente. Depois de todo aquele alarido publicitário que só a Nike nos pode oferecer, enriquecido por um Manzarra bem-disposto, lá se deu o tiro de partida para os 10km da corrida do Tejo. Apesar de não estar muito atrás, quando passei no pórtico de partida já tinham voado 20 e qualquer coisa segundos.

 O primeiro km, como é normal nesta corridas com bastante afluência, é sempre um pouco confuso com ultrapassagens, desvios, guinadas e outras manobras menos adequadas à corrida, mas a malta lá sobrevive e pouco depois já tudo corre como manda a lei. Correr na marginal é sempre uma incógnita, pois nunca se sabe se o vento vai ajudar ou dificultar a corrida. Hoje voltei a ter o vento de frente, digo voltei porque das várias vezes que já corri na marginal tive sempre essa “sorte”. Até ao primeiro abastecimento, km 3,5, os km´s voaram sem dar conta, não tinha sequer olhado para o relógio para me situar quando vislumbro a 800metros o Pacer dos 40min. Admito que delirei um pouco, pois em nada estava à espera de estar a correr a um ritmo tão alto. O mar de camisolas brancas e azuis enchia a marginal, guiados como que por um grito de revolta que tivesse acordado aquele batalhão para um ataque pelas ruas da marginal, recheada de transeuntes a aplaudir, a incentivar e a vibrar com os mais destemidos.


Continuei sempre com o pacer na ideia, sempre na tentativa de lá chegar. Foi essa ideia e esse objectivo que serviu de mote e me manteve sempre focado em chegar mais além. Depois da última subida, entrávamos no 9ºkm, fiquei ali mesmo com ideia que não chegava aos 40min, mas mesmo assim forcei o andamento, contornei a rotunda por fora a passar atletas e entrei para os últimos 400metros praticamente em sprint, pelas minhas contas ainda podia chegar á minha melhor marca nesta distância. O público aplaudia efusivamente os atletas que iam chegando, o ambiente festivo absorvia-nos e ao mesmo tempo alimentava-nos a mente e corpo para mais um esforço. Outra ultrapassagem e avisto o relógio, estou quase lá. Forço um pouco mais, ou fico com ideia disso, continuo. Os segundos ao mudarem como que rufam na minha cabeça, mas contínuo focado em cortar a meta. E já está. Caminho agora para recuperar do esforço. Normalizo a respiração e ligo para casa, sei que o Luís iria demorar mais um pouco. O telemóvel recebe uma mensagem, 5 minutos depois de ter terminado a prova recebo o meu resultado oficial lugar 386º da geral, 40m38s média de 4m04s/km, passagem aos 5km 20m18s. Fantástico Bati o meu PR na distância por 6 seg. Agora sim fico verdadeiramente eufórico com a minha prestação. Falta o Luís fazer abaixo da hora para sairmos pela porta grande. Vejo-o passar aos 9km e ainda se ri. Força, que estás quase lá! Acaba com um resultado oficial de 58m08s.Está feito! Parabéns Luís. Espectacular! Ambos cumprimos os nossos objectivos. Saldo verdadeiramente positivo desta corrida do Tejo, com uma organização 5 estrelas, mais um atleta a reentrar no mundo da corrida e o meu PR nos 10K.
Assim compensa ser corredor de Domingo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Da Meia das Lampas ao Treino Longo na Amora

Ainda as Lampas....

Todos os atletas têm as suas preferências em relação á prova A ou B. As razões mudam para cada atleta ou individuo, mas existem sempre condições, premissas ou factores que nos levam a crer que determinada prova é melhor que todas outras. No meu caso, a Meia de São João das Lampas é, creio que muito dificilmente algum dia deixará de ser, a minha prova favorita. Atenção que não é minha meia maratona favorita ou a minha maratona especial, Não! È pura e simplesmente aquela prova. A Tal. A “ El Especial” ,em palavras convertidas de um espanhol com sotaque Mourinho. Mas mais que tudo isso, e o que mais me orgulha. É que passei um ano a desafiar um amigo para correr esta prova e depois do que tudo o que contei, de tudo que lhe descrevi, terminou a prova lado a lado comigo e disse. – Isto é ainda melhor que aquilo que me contaste. Dito isto só posso deixar um grande abraço de Parabéns ao meu amigo Fernando Andrade e a todo o staff da MMSJL
 Obrigado por nos oferecerem esta magnifica meia maratona!
Para variar os TANDUR lá estiveram novamente, Já há muito desfalcados do António Almeida, ficara previamente definido que seria esta a última prova que correríamos com este nome, creio que continuaremos sempre a ter um elo tanduriano que nos ligará, mas por agora ficará apenas a amizade e o prazer de correr.  Como já passou uma semana é fácil fazer um balanço positivo da prova, não porque tenha feito uma prova fenomenal, mas porque apesar de alguns contratempos físicos, acabei com um tempo 2segundos melhor que o ano anterior.  1h43m21s e ainda não foi desta que o Coutinho ganhou, esteve quase mas o foto finish deu empate.
 
 
 Regresso aos Treinos - Mais um Longo
Uma semana depois das Lampas e ainda a recuperar de uma pequena mazela na parte posterior da coxa direita estava na altura de mais um treino longo. Longo a pensar no Porto, mas lento para me defender da mazela. Correr ao Domingo é um vício que levou ao nome do blog, mas ao mesmo tempo é um momento de confraternização com os amigos e companheiros de estrada. Eu o Vitor e o Pedro lá partimos para mais um LSD ( Expressão americana para um treino longo, Long Slow Distance) de domingo com  a ideia de fazer perto de 25km. 7h30 na estrada prontos para palmilhar km´s. Desta vez uma volta diferente, num ritmo brando com tempo para conversar e apreciar os km´s. Por momentos esquecemos os tempos a bater, os km´s a alcançar para nos divertimos a fazer jogging com muito joking à mistura. Saímos da Cruz de pau em direcção ao Fogueteiro quase sem se ver vivalma, e quando demos conta no meio da conversa e da galhofa estávamos a chegar á siderurgia.  Só para terem uma noção da paródia até um tipo que se fez passar de Fernando Andrade nos ia dando um banho com balde, a relembrar o episódio das Lampas. Já no seixal, chuveirinho à borla no Centro de estágio do glorioso e para finalizar o treino ainda ofereci ao Pedro e ao Vitor uma breve demonstração das Rampas da Cruz de Pau. Foi um treino em grande com 23km´s e picos em 2h e qualquer coisa. A mazela só chateia nas subidas e quando o ritmo acelera o que de certo modo coloca em causa a participação na meia da Ponte Vasco da Gama, mas nesta altura a Maratona do Porto é o principal objectivo. Resta-me seguir o plano e recuperar bem para que o objectivo seja uma realidade.
É por estas e muitas outras razões que sou um corredor de domingo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

24ºCorrida do Avante

Há dias em que vale a pena correr, e este domingo foi um deles. A corrida do Avante tornou-se inevitavelmente um marco cá em casa. O ano passado foi acabar a corrida e correr para o Hospital para ver o primeiro banho da minha filhota, este ano foi acabar a corrida e correr para soprar a primeira velinha.

Correr ao fundo da rua é correr em casa, correr onde treinamos é apenas e só mais um passeio.

8H30, e novamente as bombas de gasolina a servirem de ponto de encontro para mais uma jornada. Eu e o “primo” Vítor lá marcámos presença pelo segundo ano consecutivo na corrida do Avante para mais uns km´s num local que ambos bem conhecemos dos inúmeros treinos ali efectuados. Cedo nos dirigimos para o local dos dorsais, onde mais uma vez listava o nome TANDUR. Por entre uma agradável troca de palavras com a família Parro, chega a notícia que o Coutinho estava ligeiramente atrasado, sem dorsal nem alfinetes. Claro que entre amigos tudo se resolve, divide-se o mal pelas aldeias, 2 alfinetes a cada um e vamos todos mais leves. A postos para a partida era de fácil percepção que faltava o Pedro Ferreira. Está feito um verdadeiro Karnazes, sai de casa para treinar e sincroniza o fim do treino com o tiro de partida, enfim uma verdadeira loucura. Após uns breves reencontros e trocas de palavras com a malta bloguista, o Fábio, o Hannilton, a Henriqueta, a Ana e tantas outras caras conhecidas estava na hora da tão ansiada partida. Com uns primeiros 500 metros bem apertados pela multidão, eu, o Vítor e o Coutinho tentávamos a todo o custo furar por cada nesga na tentativa de começar a impor o nosso ritmo de corrida. Aquela marginal da Amora era banhada agora não pelo Rio, mas por uma multidão de gente colorida que enchia as ruas na solarenga manhã. É uma imagem que em tudo contrasta com as vividas nos treinos ali efectuados nas mesma ruas vazias e sem cor. Perto do primeiro km e no meio das normais sinfonias garminianas avisto os meus pais, tinham aproveitado para passar a dar uma força, que é sempre benvinda nestes dias de prova. Os primeiros 3 km´s voaram na marginal Amorense num ritmo rápido, sempre abaixo dos 4m25s. Nesta altura o Coutinho começava a sentir algumas dificuldades para acompanhar o ritmo e sem avisar foi baixando o andamento e o ritmo, descolando de mim e do Vítor.
Perdemos um, ganhámos outro. Ainda nem tínhamos percebido que o Coutinho tinha ficado um pouco para trás quando alcançamos o Pedro ”Karnazes” Ferreira. Fomos juntos por pouco tempo, talvez o suficiente para um…. - "olá bom dia. Estás bem? Já fomos". Eu e o Vítor rolávamos rápido de mais para o Pedro já desgastado do treino matinal. Já na marginal Seixalense, e com um ritmo que considerávamos muito bom, 4m10s\km somos varridos por um vendaval de nome Luís Feiteira, que já vinha de volta com cerca de 30s de avanço para a concorrência. Acreditem que desmotiva e muito qualquer corredor de pelotão assistir aquele voar baixinho. Perto do retorno, ficámos novamente a três. Tal como o ano passado o João do CRCP seguia ali ao lado juntando-se aos Tandur para os km´s de regresso. A viagem tornou-se ainda mais rápida que a vinda nem dando tempo para apreciar a magnifica paisagem daquele braço do Tejo a banhar as cidades vizinhas de Amora e Seixal. Já na Amora, o Vítor começava a acusar o desgaste do trilho nocturno feito na noite anterior, deixando-me a mim e ao João já perto do último km. Mesmo com mais uma semana sem km´s acumulados em treinos, as pernas ainda tinham força para mais um esticão e após uma breve troca de palavras com o João, arranco para um último km em 4min. Chegado são, salvo e satisfeito era tempo de mais uma foto para a praxe com o “primo” Vítor, um abraço ao Coutinho e aos meus pais e correr para casa para um beijo à família e principalmente à minha pequena Princesa Matilde para com ela comemorar o seu primeiro aniversário.
Parabéns Filhota!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

10ºTrilhos de Monsanto

E eis que começa tudo de novo. Final de agosto e a malta calça os ténis para voltar às provas e ao alcatrão. Mas este ano a época começou diferente, nada melhor que habituar o corpo a outras andanças com uma prova de trilhos. 10.º trilhos de Monsanto.
Numa das muitas subidas

Este domingo eu e o Pedro Ferreira, lá partimos à aventura de uns trilhos à porta de casa. O Pedro com uma enorme comitiva, levava claque (Noname Bruno) e um grande fotógrafo mundialmente conhecido (Joaquim Ferrari) estreava-se nos trilhos (não gostaste mas vais lá voltar, é sempre assim!). Eu com poucos treinos lá embalei na aventura e sem grandes aspirações ao tempo final, apenas esperava forçar o andamento para ver como se comportavam as pernas.  9H45m. Lá vai disto, toca a dar corda aos sapatos que isto começa já a subir. Nem ao fim do primeiro km tínhamos chegado e a primeira das muitas íngremes subidas começa a testar as forças e as vontades que a malta levava.  As primeiras imagens que guardo é a de um pelotão a subir uma passagem aérea sem fila sem atropelos ou chatices logo seguida de uma interminável subida, dura muito dura, que alongava um imenso mar de cores, coloridas, berrantes e saltitantes nos corpos de cada um. É magnífico correr neste ambiente de Monsanto, aquele verde que nos envolve imergindo uma sensação de leveza só quebrada pelas passadas bruscas e ruidosas daqueles aventureiros que decidiram bater aqueles longos e duros trilhos.

Uma das loucas descidas
Marcados pelas anteriormente calmas, pedras soltas, os trilhos e caminhos, eram agora varridos, acordados, sacudidos e espalhados.  Mesmo sendo uma prova dentro da cidade de Lisboa, não deixa de ser uma prova do circuito Nacional de Montanha o que faz com as subidas sejam coisa séria e as descidas, uma pequena grande loucura. Acabei por subir melhor do que esperava, mas desci bem mais rápido do que alguma vez imaginei. Foram 12 km's enfiado naquele carrossel de Monsanto, fugindo aos buracos, contornando pedras e paus, correndo ou andando quando as coisas apertavam e o piso era mau. Mas foi brutal!
 
À entrada da recta da meta, ainda com pernas para mais uma ultrapassagem
Um misto de sacrifício e dor ao subir com uma descarga de adrenalina numa descida a uma velocidade alucinante, arriscando aqui e ali o abraço ao pinheiro mais próximo ou uma derrapagem mais firme para evitar criar atalhos à pressa. Mas no meio disto tudo, sobrevivi sem cair até chegar ao piso direito e firme da passagem aérea para aí deixar fugir o tapete e estatelar-me redondo no meio do chão. Serviu para abrir a pestana e fazer o último km no prego, terminando esta estreia nos trilhos de Monsanto com 1h05m. Acabei por ficar bastante satisfeito com a prestação, pois treinos nem vê-los, mas mesmo assim as pernas deram uma resposta perante o elevado grau de dificuldade.
À chegada com 1H05m.
120ºLugar em 416 Participantes (geral)
48º em 256 do Escalão Elite M

Uma coisa é certa, começa a ser uma realidade que estou a ficar um verdadeiro corredor de domingo!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Regresso aos Treinos

Depois de duas semanas a fazer provas de fundo, da cozinha até ao fundo do corredor, cheguei à “brilhante conclusão” que estava na hora de calçar novamente os ténis e fazer meia dúzia de km´s. Até aqui tudo bem. Treino agendado para o domingo de manhã, ou não fosse eu o corredor de domingo, dos 5 inicialmente previstos apenas 3 compareceram, Eu o Vitor Veloso e o Pedro Ferreira. O Coutinho tinha ficado em casa, depois de uma má noite das crianças, o Parro influenciado pela Volta a Portugal e pela "Vuelta", tinha trocado os ténis pela esticadinha. Resumindo 2 baldas.

Desta vez a partida fez-se da Cruz de Pau, sim essa bela localidade, com o objectivo de fazer 20 e poucos km´s partimos em direcção á Fonte da Telha com previsão de abastecimento no parque da Verdizela. Os primeiros km´s foram uma autêntica revista da actualidade com o constante debate de ideias sobre o actual momento do glorioso bem como de todas as noticias dos corredores de pelotão. Eu diria que até ao primeiro abastecimento foi tudo a rolar sem problemas num ritmo calmo apenas para apreciar a paisagem e cumprimentar todos os “Parros” que iam passando. Eu passo a explicar para que não haja aqui nenhuma confusão. Dado que o nosso amigo Luis Parro, tinha trocado os ténis pela esticadinha( n.r.d termo regularmente usado pelo próprio para definir a bicla de ciclismo) todos os ciclistas que avistávamos passaram a ser gentilmente chamados de Parro. Num Domingo de amanhã acreditem que vimos muitos “Parros”. Para cada um que passava por nós havia um gentil, Bom Dia Parro, ou olá Parro sempre com a esperança que fosse o original Luis a responder, mas que nunca veio a acontecer.

Depois do primeiro abastecimento, lá continuamos a caminho das Praias num passo agora mais vivo e cativante. Eu e o Pedro lá íamos trocando galhardetes e piadas, enquanto que o Vitor sem dar muito cavaco vinha no nosso encalço. Ainda retorquimos algumas piadas normais nestas ocasiões, como “ Vais a dormir?”,” devias ter lavado a cara no Abastecimento”. Só mais tarde viemos a descobrir que ia na ronha para nos dar uma coça após o retorno. Chegados ás Praias, começava a “ vingança do Veloso”, é só mais um pouco, vamos até aos portões da NATO, é já ali. O já ali aumentava a volta em mais 3,5Km, mas como nesta altura as pernas ainda não se queixavam lá fui. Chegámos ao tão badalado portão da Nato na mesma altura que outro corredor de domingo, se encontrava a fazer o retorno. Claro que a esperteza franciscana foi, paramos um bocadinho, damos-lhe avanço e depois passamos por ele na bisga. Era para ser uma piada mas acreditem que não foi. Feito o retorno, olho para o garmin e com um rápido calculo percebo que a meia de dúzia de km que pretendia fazer ia acabar perto dos 28km´s!!!!!! Ia pagar a aventura no corpo e logo hoje que não tinha levado dinheiro para o táxi.

5 minutos de descanso e claro 5 minutos de atraso que tínhamos de recuperar para voltar a apanhar o tal corredor. Um pouco mais rápido, lá fomos andando numa média perto dos 5 min/km. Um batalhão de “Parros” passava nesta altura por nós quando no meio da conversa, sai um inesperado. -Olha o Adelino! Gargalhada geral. Era um senhor de bigode extremamente parecido com o nosso amigo Joaquim Adelino no meio daqueles batalhão de….ciclistas. Ao longe, vislumbramos o nosso objectivo, apanhar o corredor de domingo, que “ só” ia perto de 2 km á nossa frente. O Pedro em tom de brincadeira, deita o mote. -Queres mesmo apanhar o tipo! Sem pensar duas vezes, e esquecendo os músculos já um pouco doridos passo para frente da malta e digo. – Vamos lá, este já não escapa! Que ideia mais triste, só eu sei o que aquilo me custou nos últimos 3 km. O mote do Pedro, sim foi ele o culpado, levou nos para 4:40 min\km, e pouco depois com a passagem do veloso para a frente 4:20min\km. E foi assim praticamente até chegarmos novamente ao posto de abastecimento. Claro que passámos na bisga pelo rapaz, que honestamente não merecia aquele tratamento, mas que soube bem soube.

Vitor Veloso, Eu e o Pedro Ferreira

Última paragem para hidratar e tirar a foto da praxe no parque da Verdizela, ainda tentámos cortar algumas letras ao placar para se ler Vizela, mas não surtiu efeito. Íamos agora para os últimos 7 km, os músculos já doridos deixavam-me um pouco na defensiva, mas quando assim é mais vale acelerar o ritmo para chegarmos mais depressa. O Pedro Ferreira, assumia agora a marcação da passada, num ritmo pouco abaixo dos 5min/km. Em duas semanas evoluiu imenso sentido-se bastante à vontade a “ bater” na malta já dorida. Até aos foros da Amora, a coisa não foi má, mas agora as dores musculares faziam-me pagar a factura de 2 semanas sem treinar e aqueles últimos 3 kms, obrigaram-me a sofrer o suficiente para nas próximas semanas não voltar a repetir a graça de mais umas quantas baldas aos treinos. Nos últimos 500 metros ainda o Pedro e o veloso discutiram a vitória ao sprint e eu cá a trás a rir, mas a pensar cá para mim se tivessem as dores que eu tenho nas pernas queria ver se acabavam ao sprint.

O mais importante é que estava feito mais um treino, longo muito longo para mim. Com 27,5km e 2h20m corridos, 5 estrelas para quem não corria há duas 2 semanas, 6 estrelas pela companhia e pela boa disposição. Obrigado Companheiros.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

10.ª Corrida do Oriente


Pela segunda vez fui ao Oriente, não ao Oriente propriamente dito, mas ali para os lados da Expo, onde praticamente tudo é Oriente ou parecido. Até uma corrida tem o nome mais badalado para aqueles lados, Corrida do Oriente e vejam bem já é assim há 10 anos.

O ano passado tinha feito a minha melhor marca aos 10km´s nesta corrida, mas este ano os dias passam e os treinos fogem o que me fez ter uma ideia mais realista para esta prova que passava apenas por rolar. O clã estava em força, até a pequena Matilde foi dar uma força ao Pai, o que verdade seja dita me dá uma motivação extra para chegar ao fim e abraçar os meus filhotes. Comecei rápido naquele empedrado difícil, duro e acima de tudo irregular, muito irregular. O primeiro km vou rápido, sem saber ao certo como ou porquê pois não me sentia propriamente motivado para andar acelerar e a serpentear por entre a vasta multidão de gente que tal como eu tinha calçado os ténis para uma corrida de fim-de-semana. O meu pensamento não estava totalmente concentrado na corrida, faltava ali alguma companhia, desta vez não havia Tandur. Corri sozinho, os primeiros km´s a pensar que devia ter esperado pelo grande companheiro Mário Lima, ou que devia ter procurado o Coutinho conforme o combinado, mas nada disso aconteceu. Corria apenas por correr, embalado pelo pelotão pelas avenidas do Parque Expo, sem ordem, sem Norte e só. As pernas pesadas da falta de treinos também não estavam a ajudar, mergulhando o corpo num sofrimento sem dor, numa angústia, por chegar perto dos meus filhos, mesmo sabendo que apenas faltavam alguns km´s. Ao longe uma voz grita o meu nome, fazendo reagir o corpo. Os olhos saem temporariamente do Alcatrão e vagueiam em volta até encontrar o conforto de um rosto conhecido, o companheiro Joaquim Adelino. Se ele não me gritasse, tinha passado mesmo ao lado sem dar por nada. Um pouco mais desperto, fui continuando, embalado no ritmo do pelotão mudo e ansioso pelo abastecimento, de modo a afastar o calor que se fazia sentir. Foi neste mesmo abastecimento que comecei a sentir a corrida novamente. Molhei a cara, depois o pescoço e a cabeça.

Um gole para molhar a garganta e parecia rejuvenescido. Olhei para o garmin para tentar perceber o que tinha perdido até ali. Não era mau, mas também não era bom. Resignei-me e apenas corri. Ao km 5, finalmente aparece companhia. O amigo Coutinho vinha no meu encalço. Depois de uma rápida e corrida saudação, fizemos logo ali uma coligação, talvez por a palavra estar na moda, mas a verdade é que no meio daquela “Troika” toda, ficou acordado que iriamos juntos até ao fim. A conversa animou a corrida, talvez mais a minha que falo pelos cotovelos, mas estava agora motivado, já tinha um objectivo. Os km´s seguintes foram sempre a aumentar o ritmo, até que ao 7km o Coutinho começou a ficar para trás. Estava desgastado, dizia ele com o Pulsómetro a apitar cento e tal batimentos por minuto. Nesta altura sentia-me com força para aumentar o ritmo, mas não o fiz. Comecei a gritar pelo Coutinho, a tentar dar-lhe força. E mal ou bem lá o convenci a vir no meu encalço. Cada vez que se atrasava um pouco, levava mais grito para acordar. No fim acabou por dar resultado. Acabamos os dois com 43 minutos e tal, mas tínhamos cumprido o objectivo de acabar juntos. Eu sem pernas para mais andamento, acabei sem problemas uma prova que de princípio mais parecia o fim do mundo.

E depois. Bem, depois, foi correr mais um pouco, mas desta vez para os braços dos meus filhotes, e sorrir para o retrato que a fantástica Mãe e Mulher já estava de máquina na mão!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

III Meia Maratona na Areia

Corri pela segunda vez a meia maratona na areia...que saudades de correr à beira - mar.
Mais uma meia concluída, mas não é uma meia qualquer, é a meia maratona na areia uma prova de corredores para corredores realizada nos areais da Costa Azul, com partida e chegada na Costa da Caparica.  Desta vez o clã foi todo à Prova, até a minha pequena Matilde foi saber o que era a praia, pena o vento forte que apenas serviu para chatear.
Depois de recolher o dorsal e entre dois dedos de conversa e meia dúzia de posses para a fotografia com alguns companheiros e amigos, os Tandur (Eu e o Veloso), lá foram para mais uma aventura no areal da caparica. 9:30, tiro de partida. O mar de côr, anteriormente condensado e compacto, libertava-se pelo areal.
As camisolas coloridas, espalhavam-se velozmente. Sem ordem. Sem jeito. Como se de suaves pinceladas se tratassem, invadiram os tons suaves da areia e do mar. Os primeiros km´s, foram envoltos pela côr e pelas gentes, circundados de um lado pelo mar e pelo outro pelas dunas, mas esmagados pelo azul do céu e o seu sol quente de Maio, mas ao mesmo tempo varridos pelo vento forte, pesado, e traiçoeiro. A maré agora baixa, deixava uma pista, marcada aqui e ali por pegadas enterradas na areia de outros que também correm. Sem trilhos, sem estradas, apenas um cone, e agora outro, e daqui a pouco, novamente aquele cone. Apenas com um número, a recordar o caminho feito mas sem avisar o que estava por fazer. Tinham passado 5 kms, quando o primeiro abastecimento nos traz a cara amiga de outro Tandur, o António Almeida. Estava hoje do lado de fora a distribuir aquele bem tão precioso, nestas andanças, a água. Até à Fonte da Telha, a pista foi perdendo a forma, o jeito e ao mesmo tempo ganhando, sobressaltos e zonas matreiras. O areal anteriormente mais rijo era agora solto até bem perto do mar, criando um zigue-zangue constante, num jogo de gato e do rato entre manter os pés secos ou molhados por uma onda mais longa que nos apanhasse de surpresa. Já perto do retorno, os treinos outrora falhados, começam a matar o ritmo. Deixei ir o Vitor. É nestas alturas que se nota quem treina, e quem simplesmente não o faz. Ciente das dificuldades que passaria, abrandei. Recolhi o fio de nylon que marca o retorno e deixo-me  ir. A primeira cara conhecida que vejo, em sentido contrário deixa-me surpreso, o meu amigo Coutinho, a fazer a estreia nesta prova vinha logo ali. Voltei a pensar, mais um que treina e eu não. O cruzar de atletas nos dois sentidos era agora uma constante, o que verdade seja dita anima que vem de regresso e aborrece os que ainda vão a caminho do retorno. É nestes momentos que só me vem à cabeça que a partir dali é a descer. Depois, do Carlos Melo, o Luis Parro e o Mário Lima passarem por mim, ganhei ânimo, ainda vejo o Vitor ao longe e isso ajuda a aumentar o ritmo. Novamente na passagem pela Fonte da Telha o piso melhora um pouco, faltam 7 para o fim. Sinto que as pernas estão bem e o ritmo vai aumentando km após km, duvido que o garmin me minta nestas alturas. Levo comigo ainda uma garrava do último abastecimento, já vazia não serve de muito, mas com a chegada aos 15km, o Almeida, dá corda aos sapatos e corre a meu lado, incentivando e fornecendo mais uma garrafa cheia. Aquele incentivo, valeu ouro. Isto é para correr e não para vir à praia passear. Sem pensar muito, vejo a Costa da Caparica a aproximar-se, serpenteio pelo meio dos caminhantes, banhistas e afins. Estou quase lá. 21 km e o meu filho espera por mim, aquele seu sorriso malandro enche-me de orgulho. Corre para mim e dá-me a sua pequena mão, para lado a lado com o “velhote” terminar a meia na areia. Assim vale a pena chegar à meta, mesmo que seja com 1h44m04s.

Depois disto, ainda tive tempo de abraçar o Vitor e voltar atrás para fazer os últimos metros lado a lado com o Coutinho, que derrubado pelo vento forte e pela areia nos pés já vinha descalço com os ténis debaixo do braço.
Em último, duas palavras. A primeira de bastante apreço e satisfação pela Excelente organização do mundodacorrida.com, na minha opinião, sem falhas, observações ou reparos. A segunda de desprezo e desilusão por ver que muitos atletas ainda se comportam com gestos sem ética, atirando garrafas vazias para qualquer lado e direcção. Eu, deixei todas as garrafas vazias no local apropriado no abastecimento seguinte e inclusive, terminei a prova com a garrafa do último abastecimento vazia e amachucada na mão, apenas e só por uma questão de civismo e respeito pelas praias e pelos banhistas de quem também muitas vezes faço parte.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Estafeta Cascais-Oeiras-Lisboa

Domingo de manhã, pronto para mais uma corrida. Desta feita a mais antiga prova portuguesa, Estafeta Cascais-Oeiras-Lisboa. Os 2 Tandur destacados chegaram cedo ao Estoril, desta vez com o meu pai a servir de motorista e fotógrafo da malta, mas nem com esta ajuda a busca pelo café da manhã se tornou menos longa e infrutífera. Ao invés o aquecimento curto mas bastante proveitoso permitiu-nos encontrar algumas caras conhecidas para 2 dedos de conversa e rápidas saudações.

9H30, tiro de partida. Tudo começava à volta dos dados, da roleta, das slot´s e de outros tipos de sorte ou azar. Não jogámos, mas arriscámos. Ao contornar o magnifico Casino do Estoril, ditávamos a nossa sorte numa corrida de ritmo forte e compassado, eram 20km´s que nos separavam da chegada, de Belém e daqueles que nos aguardavam. O vento parecia dar luta, mais que o esperado, mas mesmo assim continuavam as quatro pegadas no alcatrão, os 2 mortais, os 2 corpos, numa só corrida, numa só equipa em busca do objectivo comum de cortar mais uma meta. A marginal o que nos dá, também nos tira, e em troca daquela miragem de mar imponente, e avassalador, retirava-nos suavemente a força e a vontade com aquele matreiro vento, malvado, batendo ligeiro, suave, sem dar tréguas, impondo uma resistência nos 2 Tandur a correr lado a lado.
Depois de deixar o mar a foz mostrava-nos o rio, com o solitário Bugio a marcar essa ténue linha entre o Tejo e o Atlântico. Olhei vagamente, primeiro a marginal, as pedras e a sua gente banhada no sol quente daquela manhã, depois o areal nas suas brincadeiras de esconde-esconde entre a espuma de mais uma onda e maré agora alta. Depois as águas do Tejo e o choque com o atlântico originando mais ondas, mais espuma e rebentação. Do outro lado, na margem a sul, a Trafaria e os seus imponentes pipelines, a Costa e os seus paredões. A maré está calma, apenas o sol nos banha a cara e o corpo, mas o vento mantêm-se cada vez mais forte, mais astuto e traiçoeiro. Depois do Estoril, já tinha ficado para trás, São Pedro, Parede, as praias de Carcavelos, Oeiras, Santo Amaro e nem em Caxias ficou o vento preso nas pedras gastas na história do forte. O meio-termo tinha passado, os Tandur continuavam ali, lado a lado, ritmados numa passada rápida, certa, ordenada. O Vento não mudou e a história não alterou, a vontade de chegar era mais forte. Na Cruz Quebrada, o rio continuava ali do nosso lado direito, correndo em sentido contrário, dizendo de onde vinha trazendo histórias, locais e até a ponte já no seu postal. O caminho era agora mais plano e rápido, os Tandur tinham passado a maior barreira e atrás de outros que ditavam agora a passada, seguiam seguros de si mas com ânsia de chegar. Algés e logo depois começava a chegar Belém e os seus Jardins entre a estrada e o mar que guarda o mural daqueles combatentes de outrora, heróis de uma pátria de outros tempos áureos, recheados de lendas e contos de gente forte, ambiciosa e audaz.
Com a pele queimada pelo sol da manhã, coberta de um sal de suor seco os Tandur avistavam o CCB. Era agora um oásis, que contrariava as forças , que vacilavam no corpo gasto pelas investidas daquele vento ao longo dos já palmilhados kms. Mas a família estava lá. Todos aguardam os 2 Tandur. Não é tempo de chorar pela ligeireza dos fortes sentimentos, mas sim de sorrir. De sorrir de mão dada com uma criança que faz parte de mim e com ela cortar mais uma meta. 1h31m de braço dado com o mar, com o rio e a marginal para abraçar a magnífica e imponente Lisboa, a Cidade a ponto luz bordada, a Toalha à beira mar estendida.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Raid Atlético de Vale Barris

 O ser humano é uma criatura complexa, cheia de engenhos, aptidões e capacidades muitas vezes ocultas ou dominadas por uma mente absorvida nos limites do corpo que ocupa. Mas por vezes, a mente supera o corpo e quando isso acontece a criatura complexa transcende-se e ganha uma nova vida carregada de adrenalina e emoções que superam todos os seus limites.

Saí da estrada, por momentos esqueci os muitos quilómetros em estradões escuros marcados a branco e parti. Parti à aventura. Parti porque alguém me desafiou a partir. Parti simplesmente porque decidi mudar um pouco. Sai do Alcatrão e abracei pela primeira vez uma prova de trilhos. O Raid Atlético Vale Barris serviu assim para apadrinhar uma estreia à muito prometida mas muitas vezes adiada.

Os Tandur lá estiveram os três para percorrer aquelas serras, os dois “Veteranos” (António Almeida e Vítor Veloso) e o novato nestas andanças (eu). Tinham-me dito que esta prova era ideal para me iniciar nos trilhos, que no ano anterior tinha sido “fácil”., e mesmo após alguma pesquisa na blogosfera pensei que assim seria. Mas cedo descobri que esta edição não iria ser assim, primeiro pelo excelente briefing inicial e depois pela “estágio” efectuado na noite anterior no SAP com o diagnóstico de uma amigdalite e uma otite. Partida feita às 9H e logo aos 600metros, toca a subir. Ao fim do primeiro km já tinha feito 200metros a andar porque era impossível correr naqueles trilhos íngremes e de pedras soltas que levariam aos moinhos. Ao chegar ao cimo, deslumbrei-me pela primeira vez. A vista dali era maravilhosa, tal e qual como uma pintura, delineada pelo céu azul no horizonte e por aqueles verdes campos e serras a enquadrar o imponente e solitário castelo de Palmela. Aproveitei o momento, procurando com os olhos absorver o máximo que aquela paisagem me dava em troca de cada metro percorrido. Uma descida, uma curva, dois ciclistas em sentido contrário e toca a curvar no que parecia ser o voltar pelo mesmo trajecto. Mas cedo me enganei. Aos 10km, o Vítor Veloso anunciava o ritmo, 52min. Demasiado rápido? Para mim, claro que sim!

Mais um verde campo, e uma dura subida de estradão, faziam anteceder uma descida que tardava em chegar. Íamos nesta altura com uma companhia de Honra, pois tínhamos mesmo à nossa frente o Carlos Fonseca. Chegou a descida, curta mas inclinada, muito inclinada. A surpresa era tanta que nem saboreamos a descida alucinante com saltos por cima de buracos, pedras soltas, carreiros de água, enfim tudo o que aparecia, nós saltávamos sem olhar. Também foi sem olhar, sem me aperceber bem, que quando dei conta, já tudo subia e descia novamente por entre arbustos, árvores, arvoredos, pedras, buracos, o que fosse. A malta saltava em busca da marca no chão e da fita na árvore, parecíamos, lebres Sado, penso que é este o termo. Pelo meio ficou a foto do amigo Joaquim que apanhou a malta ainda a sorrir sem saber o que estava para vir. Sem me dar conta, começo a perder velocidade, começava a ser difícil acompanhar o Vítor que ia ganhando metros e gritando para que não ficasse para trás. Não estava bem, deixei temporariamente de ver a estrada à minha frente. Num km tudo mudou. A alegria e a vontade de percorrer aqueles trilhos, pareciam ter morrido no meu corpo dorido. Avisei o Vítor para continuar. Vou desistir! Não dá, para continuar. Incrédulo! Olhou para mim, mas percebeu que o seu caminho era seguir.

Estava agora no controlo dos 16km com 1h35m. Parado! Aguardava uma cara conhecida. Peguei no telemóvel e liguei para casa. A voz doce da minha mulher parecia agora sobressaltada. Que aconteceu, estás……. Sem acabar a frase ouviu-me apenas dizer. - Vou Desistir!

Ouvi, um raspanete e duas palavras de força. Acreditem era o que precisava naquele altura para me obrigar a reagir. Vejo o António Almeida e penso, que sem dinheiro para o táxi e no meio da Serra, só um Tandur me pode dar boleia. Surpreso, perguntou se estava bem. Assertivamente abanei a cabeça e colei-me no seu encalço. 200metros, e aquele ritmo também não é para mim. Deixo ir o Almeida e fico a matutar na loucura que é estar todo roto no meio da serra numa prova de auto-suficiência em que estava curiosamente, a meio. Parei para andar um pouco, comer mais qualquer coisa e decidir o que iria fazer. O telemóvel tocou. Pensei à pouco o raspanete soube bem mas agora, espero que seja “apenas” um beijo de boa sorte. Nem uma coisa nem outra, do outro lado a voz do meu filho ilumina-me a alma e rejubila-me a mente. –“ Força, Pai! Tu consegues é só correr. Força!” As palavras do meu filho estremeceram dentro de mim. Sem pensar em mais nada comecei a correr. Sabia que o pior estava para vir, mas nunca pensei que fosse assim. Levei 17min para fazer o km seguinte. Sem conseguir correr, naqueles trilhos loucos. Não era o único nesta situação pois o terreno não deixava mesmo correr, com trilhos curtos, estreitos, pedras para escalar, arbustos para desviar, ramos para saltar. Uma tortura que compensou com a chegada ao posto de vigia e aquela paisagem magnífica, de Setúbal, Tróia, o Sado, a Arrábida no seu melhor esplendor. Tinha valido a pena sofrer para ali chegar, foi pena só nos terem dado um fio de nylon de prenda de presença e uma palmadinha nas costas a dizer agora é para entregar isso na meta.

A descida, vertiginosa, alucinante, pelo meio de árvores, agarrados a cordas, a evitar escorregar e cair, deu-me a adrenalina que estava a precisar. Que loucura, aquela velocidade, desgovernada, desordeira, arrebatadora. Magnifica! Sentia-me agora rejuvenescido. Por sorte, vejo o António Almeida não muito longe. Inexperiência. Pois em trilhos não muito longe significa mais uns 3 km só para o apanhar. Depois de mais umas descidas a grande velocidade a roçar a insanidade e de umas subidas a passo de caracol, a minha audácia tinha sido recompensada e apanhava o amigo António Almeida. A prova continuava dura, mas agora éramos dois Tandur lado a lado, e quando isso acontece é sinal que seremos bem-sucedidos. Com essa força, lá continuamos a subir e a descer. A lutar para avançar km a km naquela incansável e imponente serra cheia de desafios avassaladores, envolvidos e escondidos por uma inigualável beleza. A 500 metros do Fim, lá estava novamente o amigo Adelino de máquina em punho a tirar o retrato à malta que ainda sorridente ali ia passando.

Eu e o António fizemos lado a lado aqueles duríssimos últimos 6 km. Fomos batedores quando o tivemos de ser, fomos fortes naquelas intermináveis e íngremes, sempre íngremes, subidas mas acima de tudo fomos unidos para chegar à meta com 3h42m. Acabava a minha primeira prova de trilhos. Depois de tamanha aventura cheia de sofrimento e força de sacrifício, mas com muito prazer e fantásticas paisagens, era tempo do reconfortante e retemperador, banho gélido e juntar ao repasto todos os amigos mais próximos que ali estavam presentes, O Mário Lima, o Joaquim Adelino e os meus dois grandes companheiros Tandur António e Vítor que apadrinharam a estreia, sem eles de certeza que não tinha sido capaz. Sem as palavras do meu filho e da minha mulher (faltou a minha pequenina Matilde), teria certamente desistido, foram deles as palavras certas de quem melhor me conhece, e só eles sabem como lhes estou eternamente grato por isso.

domingo, 27 de março de 2011

8ºCorrida de Solidariedade ICPSI-APAV

Existem provas que por várias razões nos marcam e se tornam especiais, e existem outras que mesmo sem serem de eleição estão sempre presentes no nosso calendário. A corrida da ISCPSI-APAV é um desses casos. Não é espectacular, não é uma grande prova, mas é suficientemente boa para me fazer voltar todos os anos, muito por causa da cumplicidade, preocupação e dedicação que existe entre a organização e os atletas e na tentativa de fazer passar a mensagem da APAV.
8.ª Corrida ISCPSI-APAV, com um traçado plano e bastante agradável, esta prova de 10km, com início no largo do calvário, começa a ter contornos de prova obrigatória, como tal lá estive a marcar presença pelo segundo ano consecutivo. Cheguei, 20 minutos antes, sem pressa mas entusiasmado com o facto de voltar a estar ali presente para o tiro de partida. Não demorou muito tempo para começar a ver caras conhecidas, os irmãos Hamilton e Fábio Pio Dias (O fotógrafo corredor) lá estavam a marcar presença com a sua amizade e simpatia acompanhados da inseparável máquina fotográfica. Uma foto, um abraço a ambos e até já que as pernas têm de aquecer. Mas aquecimento nem vê-lo porque os amigos Fernanda e Luis Parro estavam logo ali por perto, e claro está que a malta da margem sul tem de confraternizar em vez de aquecer. Ao fim e ao cabo, são estes momentos de amizade antes da corrida que nos aquecem a alma e nos transmitem a vontade de domingo após domingo, prova após prova, voltarmos a marcar encontro por essas estradas de Portugal.
Tiro de partida, e lá vai disto, hora de colocar em prática mais uma semana de afincados treinos de séries entre a cozinha a sala e o quarto. Não sei onde isto vai parar, as semanas são curtas para conseguir encaixar os treinos, mas faltar às provas está, a modos que fora de questão. O primeiro km, rapidamente passou, com um ritmo abaixo dos 4min\km enquanto o pelotão seguia alongado, numa ordem desordeira de ritmos, vontades, ambições e passadas descoordenadas, até ao Cais do Sodré, onde estava colocado o primeiro retorno. Chegado o primeiro retorno entre os 2 e os 3km, notei que ia um pouco rápido demais para o que tinha idealizado, mas também para a preparação que trazia. Abrandei. A cavalgada louca que trazia, foi substituída por um andamento mais ritmado e compassado, procurando poupar as pernas mas ao mesmo tempo ambicionando manter o ritmo o mais forte possível. Nesta altura, fiquei colado a dois atletas adoptando aquela passada defensiva, mas certa, em que seguiam. De tal modo que perto dos 6km, um grupo de 10 atletas quase passa por mim de mota. Olhei para o garmin e o tempo tinha passado para 4m40s\km. Sem pensar duas vezes, acelerarei e juntei-me aos speedy gonzalez´s que tinham acabado de passar.  Aos 7km, o grupo tinha dado duas sacudidelas no ritmo já por si só rápido, ficando reduzido a 6 elementos. Foi nesta altura ao passar na zona da meta, que vi a minha mulher de máquina em punho para tirar o boneco. Sorri um pouco, para ficar bem no retrato. Mas foi no seu sorriso de resposta que parei e que por momentos esqueci a corrida, ficando rendido naquele sorriso e refém daquela mulher que vive a meu lado todos os dias da minha vida. Acordei aos 8km com a “buzinadela” do garmin, marcando 4m05s\km. Dos 8 aos 9Km, nova aceleração e lá se foi o grupo. O último retorno, era o mote para atacar a meta. Recordei o sorriso. A ânsia de um beijo marcou o ritmo, fazendo voar aquele último km num espectacular 3m39s\km.
Cheguei com 42m23s e tive direito ao tão ambicionado beijo e maravilhoso sorriso da mulher que amo. Ainda bem que há dias assim.

Aqui ficam os números:
Tempo Oficial - 42m23s
97º da geral
49º do Escalão
793 Participantes.

segunda-feira, 21 de março de 2011

21.ª Meia-Maratona de Lisboa

Cada um de nós cria expectativas, objectivos ou simplesmente utópicas ambições antes de cada prova. Mas é através do nosso suor e das mil e uma passadas de uma prova que absorvemos o choque ou o sonho de cortar mais uma meta.

Meia Maratona de Lisboa. Uma corrida que para mim já foi um sonho. Sonho esse, que me abalroou a mente dia e noite, até pela primeira vez ter corrido aqueles 21km. Foi aqui que nasceu o corredor de domingo, quando há precisamente um ano corri a minha primeira meia maratona. Um ano passou, a vida continuou e inclusive cheguei mais além do que alguma vez pensei chegar. Mas um ano depois da estreia, a prova bestial passou a besta.
Há precisamente um ano adorei cada passada, escrevi na minha mente cada metro, cada km e gravei no meu ser aquele cortar de mais uma meta. Este ano, detestei! Apenas me apetece esquecer os 21km que ontem corri. Paguei para correr, porque gosto de correr, mas senti-me desrespeitado por querer correr uma meia maratona. A partida foi um caos, com gente da mini na frente de atletas da meia, com empurrões e encontrões simplesmente, porque existe gente, que tal como eu, só queria ir correr. É muito mau ouvir o tiro de partida para uma meia maratona, e ter a minha frente um senhor de bengala a andar. É muito mau ter de andar a saltar separadores centrais, porque existiam autênticos piqueniques que nos impediam de correr. É simplesmente mau a falta de civismo que acabamos por encontrar só porque queremos correr e outros andar. Como é lógico não são estas situações que tiram grandeza a esta magnifica prova, mas são estas contrariedades que ditam a qualidade de uma organização e nos deixam sem vontade de no ano seguinte voltar.

Sem correr há 3 semanas, devido a alguns imprevistos físicos, a minha espectativa para esta prova era apenas rolar para somar km´s e se possível baixar o tempo do ano anterior. Ideia que ao km 5 já estava totalmente ultrapassada. Acabei por fazer uma corrida sem ambição, sem vontade, apenas com a vontade que acabasse depressa.
Depois do tempo perdido na partida, e sem a capacidade física que me permitisse recuperar, fui andando na tentativa de encontrar alguém conhecido com que fazer o resto da prova. Depois de encontrar o Luis “Flash” Mota, antes da partida e de mais tarde o ver passar em sentido contrário a correr atrás dos Quenianos, poucos companheiros acabei por encontrar. Cruzei-me duas vezes com o “primo” Veloso, cumprimentei o grande amigo Fernando Andrade numa altura que tentava alcançar, sem efeitos práticos, o Vitor e se não fosse ter saudado o Enfermeiro Coutinho, tinha ficado por aí o que costuma ser um mar de encontros e reencontros. Tive 3 momentos de corrida, até aos 5 pouco corri, dos 5 aos 15 tentei recuperar e dos 15 até ao fim foi abrandar e gozar a paisagem.
No fim, com 1h45m oficiais, fiquei ainda mais desalentado, quando alguém me tenta “ roubar” um ténis. Incrível, eu de pé no ar a gritar atrás de um tipo que me levava o ténis agarrado ao carrinho de bebé. Por momentos pensei que tinha acabado a minimaratona, não fosse a dor nas pernas me ter despertado para o facto, que o tipo do carrinho é que não devia estar ali. Enfim.

No meio de tanta coisa a correr mal, foi bom ter encontrado familiares que não via há alguns anos, e que vieram propositadamente de Estremoz para fazer a passagem da ponte a pé. Parabéns pela vossa vontade e ambição.

E claro que não posso esquecer do momento que para mim marca a 21.ª Meia Maratona de Lisboa, a minha mãe que nunca na vida tinha calçado uns ténis para correr, treinou afincadamente e efectuou os 7km´s da minimaratona pela primeira vez, recebendo honradamente a sua medalha no final, com um tempo abismal de 2h02m. Para o ano será certamente uma marca a bater. Parabéns “Velhota”.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Corrida da Árvore 2011

Por tradição o domingo é o dia da família, mas curiosamente também é dia de provas, por isso nada melhor que levar a família à corrida. Pela primeira vez, lá estiveram os meus 2 filhotes e a minha mulher, juntos a ver-me partir e a sorrir por me ver chegar à Meta.

Sem grandes ambições para esta prova, e com a equipa novamente desfalcada, eu e o Vitor Veloso lá teríamos de fazer pela vida de modo a honrar o nome Tandur. Estávamos com uma preparação digna de corredor de sofá, o Vitor a recuperar de uma lesão e eu sem treinar praticamente há 2 semanas. Tudo nos levava a crer que iria ser uma manhã difícil, mesmo que a prova fosse sempre a descer.
Chegámos sem tempo nem pressa, mas mesmo assim ainda deu para um abraço ao Luis Parro e à Fernanda, que tal como nós tinham trocado o Sicó pela corrida da árvore. Os dados fornecidos pela organização eram impressionantes, 1200 participantes inscritos quando no ano passado apenas tinham terminado cerca de 600. Equipar à pressa, aquecimento rápido, beijos à família e estava dado o tiro de partida. A multidão começava a rolar e a serpentear pelas estradas de Monsanto, o Pulmão de Lisboa. Os primeiros metros eram adequados à preparação que levávamos, descidas suaves e não muito rápidas devido ao compacto pelotão. Perto do 1km, a primeira dificuldade, uma subida íngreme que parecia nunca mais terminar. Mesmo assim eu e o Vitor lá fomos serpenteando, e ultrapassando alguns corredores mais lentos. Não é que a nossa velocidade fosse muita, mas nesta altura as pernas davam para a aventura. Perto do 2km, senti que ia rápido, rápido demais para aquilo que tinha imaginado para esta prova. Olhei para trás e vi o Vitor uns 10 metros atrás. Chamei por ele, que rapidamente se colou no meu encalço. Mas algo não estava bem. Continuamos naquele louco carrocel de subidas e descidas constantes, num ritmo rápido, sem preocupações dos treinos em falta ou lá o que fosse. Perto do 4km apercebo-me que o Vitor não estava por perto, levava cerca de 20metros de atraso. Abrandei e gritei-lhe novamente. O meu amigo estava em dificuldades. Incentivei, marquei o ritmo, mas o Tandur Veloso estava num mau momento. Vendi-lhe um cubo de marmelada por mais um km no meu encalço até ao abastecimento aos 5km. É certo que ele bem me tentou demover, mas era impossível. Chegado o abastecimento, era tempo das verificações técnicas. Consultei o garmin e hidratei-me o suficiente, sentia-me bem e as pernas estavam a responder melhor do que pensava. Antes dos 6km uma descida longa, onde aproveitei para embalar e ganhar algum tempo perdido nas subidas anteriores, com isso perdi o contacto com o Vitor. O pior da prova chegava agora aos 7,5km, pois dali até ao fim era sempre a subir, com inclinações por vezes na ordem dos 5%.
Nesta altura, eu e outro corredor que desconheço o nome, íamos praticamente no mesmo andamento, numa passada rápida e forte para enfrentar as subidas. Foi nesse andamento que cortei a meta com 43m40s e abracei o meu filhote, eufórico por me ver chegar.


Estava feita a minha primeira corrida da árvore. Corrida que considero difícil, pelas constantes subidas e descidas e que com os treinos que não tenho feito, a tornaram muito mais complicada. Mas a paisagem é verdadeiramente magnifica, e correr neste enorme pulmão da cidade de Lisboa é magistral, calcorreando aquelas estradas serpenteantes pelo meio do denso arvoredo, saboreando o espaço envolvente e respirando o ar mais puro da cidade.


Mesmo assim, os Tandur honraram o nome com duas classificações dentro dos 100 primeiros atletas num conjunto de 1023 que chegaram à meta.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

XII Grande Prémio do Atlântico 2011

Levantar cedo para apanhar frio, Correr à chuva, ser baleado por grãos de areia e ser varrido por vento forte. Não é de maneira nenhuma a melhor manhã de domingo. Mas se juntarmos a isto tudo uma prova de atletismo, perto de casa, com muitos companheiros. Então sim, a manhã de domingo valeu a pena.

Costa da Caparica, 9 e picos da manhã. A dupla Tandur presente em território português chegava com pouca vontade de enfrentar aquele mau tempo, desconhecendo o que ainda estava para vir. O companheiro António Almeida tinha escolhido outras paragens e preparava-se por esta altura para fazer um enorme brilharete na Maratona de Sevilha, a ele os meus muitos parabéns.

A chuva, o frio e o vento ainda ligeiros marcavam a entrega dos dorsais e as pequenas conversas de circunstância para passar o tempo até à partida. Entre trocas de palavras encontrámos o amigo Mário Lima também com pouca vontade de apanhar uma molha, mas agora que já ali estávamos era melhor equipar e dar uma corrida. Tempo ainda antes da partida de rever o Carlos Sequeira e a família Benavente. Ficou por encontrar o amigo Coutinho, dado como desaparecido no meio dos 1500 atletas inscritos à partida. Já equipados e apanhar frio fomos informados que este ano a partida tinha mudado de local, 400 metros ali para o canto. Grande erro da organização. Colocar 1500 atletas num canto de uma curva, não é boa ideia, mas mesmo assim ainda deu para ver o Fábio Dias que generosamente tirou a foto da praxe (Obrigado, companheiro). Mesmo no meio da ordem desordeira que ali se sentia, lá se deu o tiro de partida para que a malta corresse em vez de protestar.


Eu e o Vitor Veloso (Foto de Fábio Pio Dias)

A chuva e o vento forte mesmo sem dorsal, marcavam também presença, sem saber estava a começar a prova com piores condições climatéricas que já corri na vida e acreditem que praticamente em 20 anos de vários desportos federados nunca tinha vivido nada assim. Os primeiros km´s foram feitos aos ziguezagues, passando atletas desconhecidos e saudando os conhecidos ultrapassados. Perto do 2km, o vento começava a ficar mais forte, a chuva acompanhava o vento enquanto eu e o Vítor lá continuávamos a forçar o andamento. Até à Trafaria, perto dos 4 km´s, fomos passando as dificuldades com algum esforço mas acelerando o ritmo, sem saber o que estava para vir. Aos 5km o Vítor começava a sentir dores mais fortes no tornozelo. Gritei-lhe várias vezes para que não ficasse para trás, só gritando conseguíamos falar um com outro por causa do vento e da chuva forte. O pelotão alongava-se agora pela estrada, massacrado pela chuva, mas combatendo o vento. Virámos a caminho do pontão. Passada forte, com convicção, ligeiramente curvados para enganar o vento, mas alinhados e ordeiros como um batalhão invencível a caminho de mais uma batalha. Última curva e damos de cara com o Adamastor, era ali o nosso cabo das tormentas. Fomos literalmente atirados contra os restaurantes, a chuva massacrava, o vento, agora lateral era fortíssimo, a água do mar assaltava o pontão, enquanto a areia da praia nos crivava o corpo. Corria agora inclinado para a minha direita, sentindo a areia a varrer-me o corpo, mal abrindo a boca para respirar. Deixei de ouvir. O meu ouvido direito estava cheio de areia. De olhos semiabertos ia tentado ver o caminho. Sentia-me encurralado pelo mar forte e traiçoeiro a ditar as suas leis contra o imponente pontão. A chuva forte encorajada pelo vento municiado pelo areal tentava levar vencido aquele pelotão de gente audaz. A meio do pontão o atleta à minha frente quase cai e para, gritei-lhe força. Arrependi-me no mesmo momento em que abri a boca para falar. Ele não me ouviu e eu tive direito ao abastecimento “ de areia”. Cerrei os dentes e pensei que a mim o Barrabás não me deitava abaixo. Acreditem ou não, mas acelerarei. Sair do Pontão foi como um respirar de alívio dorido e sofrido. Faltava agora um km para o fim. Quando vi a placa dos 9Km, lembrei-me do amigo Jorge Branco, e recitei na minha mente, uma frase que me fez todo o sentido “É na busca mágica do último quilómetro que todos nós corremos“. Por entre pensamentos, a meta estava a vista, e mesmo com todo aquele mau tempo, acabava com 42m58s, um resultado menos mau tendo em conta os poucos treinos que tenho realizado e pelo simples facto de esta ter sido a minha primeira prova em 2011.


Depois desta loucura, nem imaginam como foi divertido chegar a casa e levar um raspanete do meu filhote, dizendo com ar muito sério que quanto está a chover não se pode ir correr para a praia e que ainda por cima estava a sujar a casa toda de areia, à mãe. Enfim!


Agora só para nós, desta vez o puto tinha razão.

domingo, 9 de janeiro de 2011

1ºSuper Trail Pirata

Ano Novo, Vida Nova! É algo que todos pensam, mas poucos se atrevem a cumprir. Sair da nossa zona de conforto e arriscar. Sair da rotina e abraçar o desconhecido que nos aventuramos para mais tarde recordar. Para começar o ano, fiz algo diferente. Não foi uma prova, não foi um treino. Foi apenas e só um encontro entre amigos, companheiros e ilustres desconhecidos em torno de algo que nos une, a corrida.

Na última sexta-feira, correu-se o 1ºSuper Trail Pirata dos Amigos do Parque da Paz. Por mais que o nome esclareça, e por mais palavras que o descreva, apenas a vivência nos conseguirá recordar um momento único de corrida. Depois de um dia chuvoso, de mais um dia de trabalho, de mais uma semana cumprida. Parei! Quebrei a rotina e ás 22h estava equipado e de ténis calçados para o 1ºSuper Trail Pirata.


Era um mar de piratas, reza a história que eram 100, mas o número real nunca se soube. Invadiram a cidade de Almada, pela calada da noite com a passada galopante a gritar revolta num terreno que não é seu. Partiram do Parque da Paz os 100 valorosos, calcorreando as calçadas da Cova da Piedade, conquistando ruas e rotundas de território outrora automobilístico. Depois de invadir a Piedade, subiram em direcção a Almada, Tomando de assalto ruas de um empedrado esquecido e poucas vezes sentido por baixo de carros rotineiros. Nem o Metro resistiu à elegância da passada e ao valoroso grupo de guerreiros, fazendo soar a sua campainha quando rendido. Do Mercado até a Cacilhas, era tempo de deixar correr, poupar as forças para contornar o Farol ouvindo o gritar rouco e gasto de um cacilheiro atordoado pelas ondas do Tejo. Seguiu-se o Passeio do Ginjal, cheio de buracos e recantos perdidos num tempo que já não é o seu. Os obstáculos caiam mas os valorosos Piratas guerreiros continuavam, Conquistando. Passaram o Atira-te ao Rio, mas não cumpriram a placa, saudaram o elevador e subiram. Subiram, o Olho de Boi sem mostrar fraqueza, pois faltava conquistar o Rei. Galopantes e insaciáveis, conquistaram ruas e ruelas, subidas e descidas, gentes intrigadas e surpreendidas. De sorriso nos lábios, o povo estava rendido e estupefacto, pela valentia e ousadia. Sem demora, abraçaram o Rei. Que de costas voltadas, se rendia sem ser capaz de olhar nos olhos os 100 valorosos Piratas. Estava feita História. Depois das conquistas era tempo do regresso dos valorosos, ao seu mundo, ao seu Parque envolto em Paz. Os 100 correram de volta iluminando a escuridão, saudando a sua terra e a natureza que os envolvia. Contam os livros e as lendas dos históricos piratas, que Almada nunca mais foi, nem nunca mais será a mesma, pela maneira como ficou rendida a tamanha valentia.

Os Tandur Piratas ( António Almeida, Filipe Fidalgo, Vitor Veloso), Mário Lima e José Carlos "Capitão Gancho" Melo.


A todos estes Piratas de quem reza a história, Um grande abraço e até às próximas conquistas.