quarta-feira, 9 de novembro de 2011

8ºMaratona do Porto

Tinha prometido a mim próprio que voltaria. Tinha de voltar. Àquela cidade que quase me tinha derrotado no ano anterior. Sofrera mas tinha escrito na História da minha vida que naquele local me tornara Maratonista.
Sábado de manhã e despedia-me da família entre beijos de saudade e ternura. No vão da escada as saudades já apertavam, mas o pensamento estava no Porto, na linha de partida para a minha segunda Maratona. A história repetia-se, tal como hà um ano atrás, as mesmas despedidas, os mesmos dois autocarros carregados de sonhos, ambições, vontades, crenças e ilusões.  Cabia a cada de um nós escrever a sua própria história, correr a sua própria corrida, percorrendo os caminhos e ruas da cidade do Porto em busca da tão ambicionada meta. Acabar a Maratona. Para alguns a ambicionada estreia, que tal como eu tinha sentido hà um ano atrás,  preenchia-lhes a mente com ambições e receios. Para outros um simples regresso para voltar a testar o corpo e a mente na mítica distância da maratona, como guerreiros que voltam ao campo de batalha na esperança de se tornarem imortais, no tempo e na História.
Neste dia correr no Porto torna-se algo divinal. Ao tiro de partida, tudo se esquece, tudo se torna periférico. Apenas ficamos nós. O corpo e alma unem-se numa simbiose quase perfeita, distraída apenas pelos sons revoltos do atlântico ou pelo melodioso e sereno Douro. Por volta dos 10km´s, o primeiro choque. Mais de metade dos protagonistas desaparece, ficamos apenas nós: maratonistas e candidatos a tal. A Maratona começa aqui, neste ponto já não há retorno, temos de seguir. A foz acolhe-nos, abençoa-nos e deixa-nos prosseguir. O seu vento agora brando, apenas nos empurra suavemente como uma mão que embala o berço. Na ribeira o Douro canta e encanta os corajosos, os devotos na crença, os corredores e a sua corrida e guia-nos até à ponte D Luis. É aqui, que temos a certeza que fazemos parte da cidade, do rio, enquanto atravessamos aquele Douro envolvidos na magistral armadura de ferro e sentimos que Gaia nos acolhe nas suas velhas calçadas, de paralelipedos escuros e tortos a enquadrar as caves e os barcos rabelos. Até à afurada é um pulo, ou apenas meia dúzia de passadas corridas. O suor frio que me corre na testa acorda-me de um sonambulismo, de um sonho. 1h37m Abro talvez ligeiramente os olhos e sei que vou a meio, enquanto o  Sol morno daquela fria manhã Portuense, não me deixa acordar definitivamente. Aquece-me o rosto e o outrora suor frio já não existe.
Os olhos novamente semicerrados, querem que volte a deixar-me ir. Anseio embalar novamente, no Douro, na calçada escura e voltar adormecer o corpo e mente na corrida. A armadura de ferro está ali repetidamente, respiro fundo e atravesso a ponte pela última vez , rio acima em direcção a um ponto até agora vazio e perdido num além que não vislumbro. O Freixo faz-me sombra, volto a sentir o frio, está na hora de voltar, não ao principio mas ao fim. Aos 30km´s estou sozinho, mas mesmo adormecido e envolto no embalo do Douro, descubro que as minhas passadas sabem o caminho. Respiro então calmamente, sei que vou chegar, sei que a barreira é mítica mas talvez imaginária, se aparecer enfrento-a como outrora fiz. O corpo ainda não chegou, mas a mente diz-me que sim, agora sei que vou chegar. Vislumbro-a momentaneamente e recordo outros tempos, noutra passagem e outras dores. Sinto que me tornei mais forte, e a prova disso é que aquele mar de gente me aplaude a mim e aos outros que ali chegaram. Sentem a dívida para connosco por corrermos na sua cidade, mas também nós os maratonistas estaremos sempre gratos por aqueles inesqueciveis momentos das nossas vidas.

3h14m44s (-26mins  que em 2010!!!!), Obrigado Porto! Por me deixares adormecer a vaguear nas tuas ruas e ruelas, por me embalares na tua foz e por me deixares ouvir o teu melodioso Douro. Tal como no passado sei que um dia voltarei para te saudar, mas agora o coração apertado nas saudades e na ternura leva-me de novo a casa para junto dos meus que de olhos fechados, não sentem o meu beijo. O meu corpo agora dorido implora finalmente por clemência, deito-me suavemente e fecho também eu os olhos para reviver mais um dia na pele de um maratonista.    

GP Cruz de Pau

Todos os anos o GP da Cruz de Pau é para mim um regresso ás origens. Um regresso a uma casa que me ajudou a crescer e ao mesmo tempo a viver momentos muito felizes. É por isso uma prova obrigatória, para marcar presença mesmo que seja de gatas ou ao pé coxinho.

Paulo Sousa, Luis Carapeto, Vitor Veloso, Eu e Pedro Ferreira

Depois da corrida do Tejo tinha lançado ao amigo Luis carapeto o desafio de correr o Gp da Cruz de Pau. Ele que se tinha estreado numa prova de 10km´s hà uma semana, acabou enganado, e inscrito numa prova de treze! No domingo de manhã tínhamos uma comitiva digna de elite, o Vitor Veloso, o Pedro Ferreira e eu éramos os elementos da praxe mas era o Paulo Sousa e o Luis Carapeto que alinhavam na estreia da prova. 5 corredores de domingo e mais uns pozinhos. 


Com cerca de 500 inscritos na prova principal, apesar de ser uma prova pouco publicitada, o Gp contava com vários elementos de grande nível, como é o caso do Alberto Chaiça e do Eusébio Rosa. Dada a partida, eu e o “primo” Veloso saltámos logo para o grupo dos aceleras, mesmo sabendo que não tínhamos andamento para a coisa. O Pedro resguardou um pouco e ficou-se a rir dos loucos enquanto que o Paulo e o Luis um pouco mais atrás tinham na estratégia começar devagarinho e depois ganhar aos outros todos. O primeiro km passou aceleradíssimo, 3m45s!!!!! Não estava à espera e para não desanimar no caso de uma quebra de ritmo, tomei imediatamente a decisão de só voltar a consultar o relógio aos 5km para me situar. O que na verdade aconteceu bem mais cedo do que estava à espera dado que passei com 19m04s. O retorno fazia-se perto dos 6,5km, com um grande amigo de serviço, José Baptista. O ano passado tínhamos feito alguns km´s lado a lado, eu a correr e ele de bicicleta, mas este ano ficou-se pela função de aguadeiro. Foi um enorme prazer revelo, mesmo em corrida ainda deu tempo para me tentar vender a bicicleta, deduzo que nesta altura ou eu ia com muito mau especto ou a sede era muita. Ainda ponderei rapidamente na proposta da bicicleta, mas fiquei-me pela garrafa de água. Ainda não tinha acabado de beber a água e já me cruzava com o Pedro em sentido contrário. A saudação foi rápida porque honestamente não estava minimamente à espera de o ver já ali. Perto dos 8km, fiquei sozinho com um outro atleta, mais velho e com uma passada de fazer inveja, pois os km´s continuavam a passar e o ritmo mantinha-se abaixo dos 4min\km. O trajecto desta prova é um dos meus locais habituais de treino e não me lembro de alguma vez ter percorrido aqueles km tão depressa. Após sucessivas trocas de ritmo impostas ora por mim ou pelo outro atleta, ouço o garmin anunciar os 10km´s, a curiosidade leva-me dar uma vista de olhos. 39m28s, tinha acabado de bater o meu recorde aos 10km´s por 1min e ainda faltavam 3km para a meta. Este facto deu-me um novo ímpeto de vontade e ambição, até ao fim iria ser sempre a puxar para fazer a melhor marca possível. A 2 km´s da meta e após algumas ultrapassagens ficava reunido um grupo de 6 atletas. O ritmo acelerava ainda mais com as sucessivas tentativas de cada um em descolar do grupo. Já dentro do último km, mais precisamente na entrada da última subida um novo ataque de um dos outros atletas obrigava a o grupo a recuperar na subida. Apanhado o atleta vejo a minha oportunidade. Num último esforço consigo sair do grupo, ainda na subida, com um ligeiro sprint que me deixa 5 metros de avanço. Olho para trás e desta vez o grupo não responde. Sem baixar a aguarda acelero ainda mais, estava a 400 metros da meta, e se dependesse de mim de certeza que não me apanhavam. Mais uma curva uma contra curva, uma ultrapassagem e entro na recta da meta sozinho. A estratégia tinha dado resultado e cortava a meta com 52m25s, o meu tempo mais rápido aos 13km, tirando 3min30s ao tempo efectuado na mesma prova no ano transacto. Estava delirante.

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A chegada!

Entre cumprimentos aos meus pais, vou vendo chegar o resto da comitiva com resultados também eles excelentes para os seus objectivos. Até o Luis Carapeto que se tinha estreado aos 10kms no semana anterior chegava inteiro ao fim numa prova de 13km´s.

Eu, Vitor Velos, Luis Carapeto, Paulo Sousa e Pedro Ferreira

Depois da foto da praxe, estava na altura de voltar a casa para saborear o momento com a família.